Uma das funções das embaixadas é, para além de representar os respectivos países, a de reportarem informações e elaborarem relatórios sobre o país onde estão, de forma a manterem os respectivos governos a par do que se passa. Para além do que é mais óbvio, como o acompanhamento da politica interna e externa, é feita a abordagem da situação económica, o desempenho e o prestígio dos políticos e forças vivas, o moral do população, o funcionamento das instituições, as perspectivas de futuro e os cenários de evolução da situação.
Irá ser interessante, daqui a umas décadas, consultar os arquivos diplomáticos estrangeiros sobre o que as suas embaixadas em Lisboa têm relatado da vida portuguesa nos últimos tempos, e da avaliação do estado do país. Os casos de suspeita de corrupção, DVDs de uma polícia estrangeira a incriminarem o Primeiro-Ministro, credibilidade da justiça, relações da imprensa com o poder político, ministros a fazerem chifres no parlamento, arguidos candidatos, noticiários cancelados, acusações de espionagem ao Presidente da República feita pelo Governo, acusações de lobby castelhano... e o que mais surgir.
E não me admiraria que o que surgisse a seguir fossem acusações de fraude eleitoral no Domingo. Talvez por isso nestas eleições os partidos tenham mobilizado muito mais os seus militantes para fazerem parte das assembleias de voto. É que, não só a disputa pelo votos será muito renhida, como os dois principais partidos têm muito a ganhar e muito a perder. Para muitos, a perda das eleições significará o regresso ao desemprego e por isso tudo vale.
Uma possivel descrição que as embaixadas em Lisboa estarão a fazer é: uma guerra civil travada por todos os meios menos os violentos. Procurando olhar as coisas com alguma distância, é isso que eu vejo.
3 comentários:
Tem-se tornado habitual nos últimos anos em Portugal encarar a sociedade portuguesa como uma sociedade sem futuro, quer a nível colectivo quer a nível individual. Generalizou-se a ideia de que somos uma sociedade em empobrecimento relativo, se não mesmo absoluto, sem perspectivas de empregar produtivamente os seus membros activos nem de proporcionar pensões condignas ao seus membros em idade de reforma.
É claro que o mundo mudou e as suas mudanças condicionam a sociedade portuguesa de modos que não faziam geralmente parte das expectativas e dos planos dos portugueses. Expansão demográfica de base fisiológica, existência de uma economia nacional, ausência de constrangimentos supranacionais à soberania política e casticismo cultural são, para o bem e para o mal, estruturas do passado. Para ter futuro, a sociedade portuguesa tem de adaptar-se a uma demografia cuja base fisiológica estagnou, a uma economia mergulhada numa economia europeia que adquiriu muitas características de uma economia nacional e numa economia mundial cujas regiões são cada vez mais interdependentes, a uma vida política em que os órgãos de soberania são em grande medida meros interlocutores em negociações internacionais cujos resultados se nos imporão de bom ou mau grado, a uma aculturação constante com outras sociedades; e os portugueses têm de adaptar-se a uma sociedade portuguesa com essas estruturas.
Porém, nada disto significa que Portugal se torne necessariamente mais pobre, mesmo em termos relativos, sobretudo em termos absolutos; nada disto significa que Portugal não possa ter actividades económicas capazes de proporcionar ocupação e rendimento aos seus cidadãos activos e transferências aos seus cidadãos inactivos. Significa, todavia, que a sociedade portuguesa tem de modificar algumas das suas instituições e os portugueses têm de modificar alguns dos seus comportamentos e expectativas, para que seja possível a sociedade portuguesa continuar a ser uma sociedade altamente desenvolvida e próspera no contexto mundial.
Preservação dos recursos naturais, melhor preparação dos recursos humanos, investimento em capital físico e aperfeiçoamento das instituições serão possivelmente os quatro tópicos em que poderão resumir-se os desafios da mudança indispensável para que a sociedade portuguesa não entre num processo efectivo de decadência. Talvez o último aspecto seja o mais difícil dos quatro. Isto porque frequentemente aparece como algo que, real ou supostamente, prejudica grupos de interesse com algum poder de resistência à mudança. Encontrar forma de vencer essas resistências à mudança institucional será, por isso, a questão crucial da vida portuguesa dos próximos tempos. Por isso há que derrotar a esquerda em toda a linha nestas eleições legislativas, pois caso contrário temo pelo futuro de Portugal.
O parágrafo final está magnífico! Mas eu vou um pouco mais longe. Neste momento o que eu sinto, é que Portugal vive, nem mais nem menos, que uma guerra civil fria.
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