Ontem ao fim da tarde, enquanto no parlamento se debatia o estado da Nação, eu estava a ouvir o Perguntas Proibidas na Rádio Europa dedicado ao centenário da República, onde eram convidados alguns dos que fazem o blog do mesmo nome. Lembrava-se a balbúrdia a que a política desceu durante a I República, a níveis inacreditáveis como por exemplo o direito ao porte de armas de fogo em pleno parlamento. Findo o programa, ouvi o noticiário das 19h onde tomei conhecimento do episódio do último dia desta legislatura.
Manuel Pinho, e isso tornou-se óbvio desde que tomou posse, não é um político, mas um técnico que, tal como Teixeira dos Santos, chegou ao governo transferido do "plantel" dos quadros do Banco Espírito Santo. Sem jeito nem vocação para a política. Mas, e apesar de não se poder dizer que tenha sido um bom ministro, a governação do país precisa de pessoas assim, cuja competência técnica seja a razão de chegarem a cargos de responsabilidade.
Mas numa altura em que se governa sob a mira do mediatismo e do culto da imagem, um ministro assim não pode ser abandonado pelos seus colegas políticos. E foi isso que aconteceu a Manuel Pinho. Houve gaffes desculpáveis, umas mais, outras menos. Houve falta de jeito para lidar com jornalistas, mas é para isso que os governos têm a sua frente mediática. Mas houve também uma agenda mediática que obrigou a episódios dolorosos como a longa novela da Quimonda, em que o Governo precisava de mostrar (ou será de fingir?) que estava a tentar resolver um problema, e em que Sócrates frequentemente deixou Manuel Pinho entregue "às feras".
Ninguém é obrigado a ter jeito para a política, e a ter paciência para suportar todo o desgaste psicológico e pessoal que ocupar um cargo político implica hoje em dia. Manuel Pinho encheu durante quatro anos e meio, e rebentou na sua última ida ao parlamento.
Um próximo governo PS é bem capaz de ter dificuldade em recrutar um ministro da Economia entre quadros capazes e com currículo. Muita gente "ministeriável" deve estar por esta altura a jurar nunca na vida aceitar um convite para ser ministro, qualquer que seja o governo. Não precisam e não estão para se sujeitar a tanto.
É este também o estado da Nação.
2 comentários:
Só três apontamentos:
- 1º O ex-ministro por muito que «tivesse o saco cheio» e acredito que é difícil ou que escasseia a paciência para ouvir críticas injustas. Mas isso não justifica que um ministro da Nação se porte como um míudo malcriado dentro de uma sala de aula. Se eu fosse Professor e não digo 1º Ministro, ele ia imediatamente para a rua.
- 2º Como já escrevi neste blog, quem realmente ganha muito dinheiro não está para ter a maçada de se meter no lamaçal da política portuguesa, além de perder dinheiro, fica exposto a todo o tipo de observações e comentários, e ainda perde a privacidade. Só factores que não convidam ninguém a ir para um governo.
- 3º Mesmo com as sondagens da treta que se fazem cá no burgo, não é líquido que o próximo governo seja do PS.
Caro Paulo: não pretendo fazer a defesa de Manuel Pinho mas reconheço a dificuldade de se ser ministro hoje em dia (e ser ministro de um José Sócrates, tendo de dar a cara pelo que se sabe, mais difícil será ainda). E todos temos um ponto de ruptura. Manuel Pinho teve o seu na Quinta-feira, no Parlamento, tal como Cavaco Silva uma vez teve, e a sua fuga foi uma fatia de bolo-rei. É preciso ter muito estofo para o que se atura, sobretudo quando se é um quadro empresarial com um currículo respeitável e se tem de ouvir "bocas" de um deputado comunista que não sabe o que é ter um emprego a sério e muito menos salvar empresas em dificuldade.
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