sexta-feira, 18 de setembro de 2009

As eleições mais deprimentes de sempre

A campanha eleitoral não o tem sido, em larga medida. Não se tenta convencer ninguém: luta-se pelo poder. Numa batalha de lama, PS e PSD comportam-se como duas prostitutas velhas à bulha pela posse de uma esquina onde já ninguém pára. O CDS tem o mérito de ter colocado as PMEs na agenda e de ser o único partido com preocupações com a agricultura; mas não chega ao ponto de propor medidas concretas neste sector para além de dar os subsídios em falta. O BE, que dantes se proclamava a ovelha negra da política portuguesa, o anti-partido contra o sistema, apresenta-se hoje como uma alternativa de coligação para um governo do sistema, apesar das embaraçosas burrices que incluiu no seu programa. O PCP afunda-se no seu ridículo. Dos ditos pequenos partidos, destaca-se o MEP, com um cocktail de propostas sociais-democratas há muito conhecidas dos discursos do PS, PSD e CDS, sendo a maioria dos restantes pequenos partidos uns meros grupos de pessoas a brincarem aos partidos.

Das questões que afectarão o país, não só nos próximos 4 anos, mas nas próximas décadas, nada. Nada sobre um projecto nacional, que não o de um quintal de partidos políticos, um mercado reduzido a um feudo do Estado e a uma coutada de grupos económicos, e de um território onde a lei e a ordem são cada vez mais precárias.

É catastrófico que nas eleições gerais num país onde o Estado está em tudo e em todo o lado, o debate seja sobre coisa nenhuma. É o caminho da escravatura, ainda que encapotada.

Esta semana, na apresentação do seu novo livro "A Circunstância do Estado Exíguo", o Prof. Adriano Moreira abriu mais uma vez os olhos de todos para o que será a condição de Portugal num futuro próximo - resta saber se não é já a presente. Com a lucidez e o realismo que o tornam numa das grandes figura do Portugal contemporâneo, foi referindo os factos que nos estão a condenar a sermos um país falhado: irrealismo das opções de política externa e comercial, inacessibilidade das elites ao poder, acolhimento irresponsável de imigração desregrada, abandono do espaço rural e do mar, desbaratamento do poder cultural e - no que somos acompanhados por todo o Ocidente - a perda de valores e consequente empobrecimento cultural.

O público presente no auditório do IDN aplaudiu de pé, consciente de que ouvira um discurso de alcance histórico.

Mas serão poucos, dos que ali estavam, que ousarão ter as mesmas opiniões cá fora. Concorda-se mas ninguém se quer queimar repetindo ideias politicamente incorrectas. Cá fora, não convém contrariar o sistema e tentar interromper o processo. O caminho para deixarmos de ser um país e tornarmo-nos numa mole de acéfalos falidos e impotentes fica aberto e pavimentado pelas conveniências.

6 comentários:

Anónimo disse...

Em grande! Os anos passam e continuas em forma. Estou 100% de acordo.
Abraço

Kruzes Kanhoto disse...

Pois são. E estão a prejudicar as autárquicas que, essas sim, eram capazes de ser animadas pelo exotismo de muitos candidatos...

Paulo Lisboa disse...

Parabéns! Mais uma vez penso que este é mais um daqueles teus artigos que está muito bem escrito e pensado. Concordo em quase tudo com ele à excepção de algumas coisas que passo a abordar, não só por não concordar, mas também para dar outra perspectiva.

1ª Parece-me evidente, que para o PS e o PSD apenas interessa o cavalo do poder, por isso discussão de ideias: zero! , apenas marketing político.

2ª O BE jamais irá para o poder, porque se o fizer, «perde a virigindade». Explico-me melhor, a natureza do BE é intrinsecamente anarca, anti-lei, anti-polícia (no programa deles, eles dizem que desconfiam da Polícia) e em última análise anti-Estado. Se o BE fosse viabilizar um governo do sistema, ele que é contra o sistema, estaria e entrar no sistema e a descaracterizar-se completamente. Perdia por isso a sua razão de ser, o que fatalmente se iria traduzir numa redução de votos.

3ª O PCP é ridículo e bacoco, está irremediavelmente condenado ao desaparecimento. A única coisa que não suporto é ter de ouvir os comunistas a dizer que são democratas, quando não o são.

4ª O CDS, dos partidos do sistema, tem as melhores propostas e as melhores ideias, mas convenhamos que o Paulo Portas já está muito requentado e pouco traz de novo.

5ª Quando aos pequenos partidos permite-me discordar de ti, João Quaresma, não me parece que o MEP se destaque, apenas fala de lugares comuns já muito ouvidos e batidos pelos partidos do sistema. O MMS aparesentou uma proposta muito válida, mas a que ninguém liga nada: A exploração como deve ser das nossas águas territoriais e da nossa zona económica exclusiva, mas tirando isto e tal como o MEP, é mais do mesmo.
Os outros partidos à excepção do PNR, ou caiem num folclore ridículo estilo PREC (MRPP e POUS) ou defendem causas muito específicas, como o partido pró-vida, o PPM, a FH, o PND, o que francamente não serve. O PTP com o líder que tem, não vai a lado nenhum, mais parece um negociante de porcos em campanha eleitoral.

6ª O PNR é quanto a mim o partido que tem o melhor programa político: é simples, é facil de ler, não tem dezenas de págimas escritas em «politiquês» e divide-se em 6 grandes áreas que eu considero vitais para o futuro de Portugal:
- A Educação.
- A Família.
- A Segurança.
- A Imigração.
- A Justiça.
- A Economia.

O PNR tem propostas muito válidas para todos as áreas da nossa sociedade, mas como é de direita, nacionalista e diz muitas verdades, tem sido sistematicamente ostracizado, porque não interessa nada ao sistema politicamente correcto em que vivemos.

7ª Relativamente ao Prof. Adriano Moreira, é uma pessoa de inegável prestígio, que eu respeito muito. Já tive o previlégio de assistir a uma conferência sua, mas honestamente, penso que o seu alcance é pouco maior do que esse (o de escrever livros e dar conferências), talvez tenha chegado tarde à política, já que em 1987 quando liderava o CDS já tinha 65 anos e em Portugal como no mundo existe o culto da juventude.
Mas é curioso ver que a maioria dos assuntos abordados pelo Prof. Adriano Moreira, são temas de campanha do PNR, como: «irrealismo das opções de política externa»,«acolhimento irresponsável de imigração desregrada», «abandono do espaço rural e do mar».

8ª Na parte final do teu artigo, dizes que ninguém quer contrariar o sistema. O PNR em geral e o seu líder em particular, o Arquitecto José Pinto Coelho, não tem feito outra coisa, muitos vezes com prejuízo da sua vida particular.

Joao Quaresma disse...

Sasug: Obrigado! Um abraço.

Kruzes Kanhoto: Temo que as autárquicas venham a funcionar muito como "ovos diferentes em cestos diferentes", em relação às legislativas.

Paulo Lisboa: Obrigado.

2) Discordo completamente. Não se iluda: o BE foi contra o sistema quando lhe conveio e agora quer ser sistema, porque agora pode. Não vai recusar a mais pequena possibilidade de chegar ao poder. É um partido feito na sua grande maioria por militantes de outros partidos desiludidos por não poderem fazer carreira nem ser poder, onde estavam.

6) Admito que não li o programa do PNR mas, da mesma maneira como não vejo como os problemas do país possam ser resolvidos com foices e martelos, também não me atraem (muito pelo contrário) as suásticas e as célticas. Para além de tudo o que é óbvio, acho o espectáculo de ver portugueses, latinos, a desfilarem com símbolos de uma ideologia que faz a apologia da superioridade da raça ariana uma coisa própria de um sketch dos Monty Python...

Gi disse...

JQ, era bom que mais gente percebesse e denunciasse a pretensão anarquista do BE. Eu também acredito que ele quer chegar ao poder.
Já não sei quem disse que hoje em dia a política, os partidos e as eleições têm como principal objectivo dar jobs aos boys, mas parece-me que é verdade.

Paulo Lisboa disse...

Caro João Quaresma em resposta às suas observações à minha resposta tenho a dizer o seguinte:

Com o andar da campanha confesso que também me começa a parecer que o BE quer chegar ao poder, aliás, um seu cartaz aparece a dizer «Estamos prontos!» Prontos para quê? Pergunto eu. Para se coligarem com o PS no caso deste ganhar sem maioria.
Parece-me até que o BE teve sempre um patrocínio subterranêo do PS para defender aqueleas causas mais «sujas» que o PS não queria abertamente defender, (pelo menos há meia dúzia de anos atrás) como o casamento gay, a adopção gay, a eutánasia etc.
Mas mantenho a opinião de que se o BE for para o governo com o PS, irá inapelavelmente descaracterizar-se e perder a razão de ser. E com isso perde votos e influência. Um bocado como o que se passou com o Sá Fernandes em Lisboa e se vai passar com o BE em Lisboa depois das autárquicas.

Quanto ao PNR, foi pena não ter lido o seu programa, mas pode consultar as suas prioridades no seu site (www.pnr.pt) que vai quase dar ao mesmo, irá perder 5 minutos no máximo e ficará com uma ideia completamente diferente do PNR.
Penso até, João Quaresma, que está a cair num erro da comunicação social do sistema. O PNR é um partido nacionalista, não é um partido fascista (a constituição não o permite) e muito menos nazi, também não tem suásticas nem célticas.
Mas admito que em manifestações organizadas pelo PNR, como por exemplo no Dia de Portugal e no dia da Restauração da Independência, possam surgir as tais pessoas a desfilarem com símbolos de uma ideologia que faz a apologia da superioridade da raça ariana. Talvez não seja apropriado, mas também e apesar de tudo, vivemos num país onde pelo menos deve haver liberdade de expressão.