A concretizar-se a queda da ditadura pró-ocidental que governa o país há três décadas, teremos muito provavelmente uma tomada do poder pela Irmandade Muçulmana, e um regime fundamentalista islâmico agressivo a controlar um dos países-chave para a segurança mundial. As consequências serão devastadoras a vários níveis. O facto da polícia egípcia abandonar os seus postos na fronteira com a Faixa de Gaza, deixando entrar combatentes do Hamas para se juntarem aos combates nas cidades junto Canal do Suez (onde o nível de violência tem sido maior e a atenção dos media menor) por si só já abre a possibilidade de uma intervenção militar internacional para manter a segurança e navegabilidade do Canal. É tão sério quanto isso.
E esta situação vai para além das fronteiras do Médio Oriente / Magrebe. O que poderá estar a passar para a opinião pública muçulmana é que se é possível derrubar ditaduras opressivas através de insurreições generalizadas, porque não fazer o mesmo na Europa, derrubando regimes "infieis", bananizados e incapazes de reagir com determinação? Não auguro nada de bom para as banlieues...
Sem dúvida que estamos a assistir no Egipto ao derrube popular de uma ditadura imensamente detestada, e que o povo egípcio merece crédito por isso. Mas o que virá a seguir é bastante preocupante e não deixa lugar a romantismos político-ideológicos.
2 comentários:
O que me preocupa no Egipto, nem é a gsolina a 5Euros o litro. O meu Pai dizia e com razão, que independentemente do preço da gasolina, as pessoas andam sempre de carro, também me parece.
O que me preocupa verdadeiramente no Egipto é o seguinte:
1 º Os acontecimentos do Egipto fazem-me lembrar o que se passou no Irão em 1979, onde havia uma suposta ditadura que oprimia o povo em termos políticos, mas era também um regime amigo do Ocidente, onde havia alguma prosperidade e onde as mulheres gozavam de amplos direitos.
Em 1979 o povo iraniano estava farto do regime do Xá, mas na pressa de mudar de qualquer maneira, mudaram para muito pior, mudaram para uma teocracia islamica retrógada, repressora, opressora das mulheres e que constitui um antêntico perigo para a região e mesmo para o mundo.
2º O que se está a passar no Egipto e também na Tunísia, vai alastrar a Marrocos, à Argélia, à Líbia, e talvez ao restante mundo Árabe. E sinceramente não me apetece ter teocracias islamicas, às portas de casa. Porque é o que vem a seguir, teocracias islamicas às portas da Europa.
JQ e Paulo Lisboa, a minha preocupação é idêntica.
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