Se eu fosse republicano, estaria indignado e diria que esta campanha para as Presidenciais atingíu um baixo nível tal que é um insulto às instituições republicanas. Os republicanos portugueses mereciam mais.
Para começar, ainda não foi desta que os partidos se estrearam a fazer eleições internas para escolherem o seu candidato (e que melhor eleição para o fazerem?). Nem que fosse para comemorar o Centenário da República! Não, nada disso: os candidatos foram os escolhidos pelos directórios partidários e os militantes que se calem, que agitem as bandeirinhas e que votem como lhes mandam (e já agora que paguem a quotas).
Um dos argumentos invocados em favor do modelo republicano de regime é: «Em República, ao contrário da Monarquia, qualquer um pode ser o Chefe de Estado, pois não depende de pertencer a uma família em particular». É verdade, mas em teoria e apenas isso. Para se ser Presidente da República é preciso ser membro da família PS ou PSD há algumas décadas, e é preciso ser indigitado pelos mandantes do PS ou do PSD para que as respectivas máquinas partidárias e mediáticas o levem até Belém. Caso contrário, não há hipótese. E depois é a pobreza que se vê. Mesmo dentro dos dois maiores partidos, sem dúvida que se encontrariam personalidades com melhores atributos (para já não falar em currículos) para a chefia do Estado, que os militantes se encarregariam de escolher. Mas quando um PS que tem um Jaime Gama opta por um Manuel Alegre, está tudo dito sobre o funcionamento dos partidos. E, por mais discursos poéticos que se façam no 5 de Outubro, a verdade é esta: a República é dos partidos.
Em segundo lugar, o deserto de ideias dignas de discussão é quase completo. O único candidato que finge ter uma ideia subjacente à sua candidatura é Defensor Moura: a Regionalização. Digo finge, porque é evidente que o único propósito da candidatura de Defensor Moura é ser uma voz crítica de Cavaco Silva a juntar à de Manuel Alegre. Mesmo que não fosse, um candidato a PR não deve defender causas que não o serviço ao país, pois o papel do Presidente é suposto ser equidistante em termos ideológicos e partidários, não interferindo na governação, só assim podendo ser o moderador e o árbitro dos poderes políticos. Que em eleições legislativas, um partido defenda a Regionalização (ou outra causa qualquer) faz sentido; mas um candidato a Presidente da República defender causas é a mesma coisa que um árbitro de futebol que promete favorecer uma equipa. Absurdo.
Assim, à falta de um debate sério, Cavaco e Alegre chafurdam na lama, e com eles arrastam a imprensa e alguma blogosfera que, histérica, ou pede provas da honestidade que não se adivinha nos seus chefes, ou coloca a mão no fogo pela honestidade de Cavaco e morde tudo que possa colocar em causa a sua beatificação. Bastaria uma curta ronda pelas capas do defunto jornal O Independente e logo surgiriam casos bem mais interessantes que o BPN/SLN para atingir Cavaco Silva. Mas não: o Povo está com a corda na garganta e nada melhor para o irritar do que ligar Cavaco a um Banco saqueado. Cavaco é "um deles". Num ambiente destes, não admira que as figuras válidas se auto-excluam de eventuais aventuras presidenciais.
Um dos argumentos invocados em favor do modelo republicano de regime é: «Em República, ao contrário da Monarquia, qualquer um pode ser o Chefe de Estado, pois não depende de pertencer a uma família em particular». É verdade, mas em teoria e apenas isso. Para se ser Presidente da República é preciso ser membro da família PS ou PSD há algumas décadas, e é preciso ser indigitado pelos mandantes do PS ou do PSD para que as respectivas máquinas partidárias e mediáticas o levem até Belém. Caso contrário, não há hipótese. E depois é a pobreza que se vê. Mesmo dentro dos dois maiores partidos, sem dúvida que se encontrariam personalidades com melhores atributos (para já não falar em currículos) para a chefia do Estado, que os militantes se encarregariam de escolher. Mas quando um PS que tem um Jaime Gama opta por um Manuel Alegre, está tudo dito sobre o funcionamento dos partidos. E, por mais discursos poéticos que se façam no 5 de Outubro, a verdade é esta: a República é dos partidos.
Em segundo lugar, o deserto de ideias dignas de discussão é quase completo. O único candidato que finge ter uma ideia subjacente à sua candidatura é Defensor Moura: a Regionalização. Digo finge, porque é evidente que o único propósito da candidatura de Defensor Moura é ser uma voz crítica de Cavaco Silva a juntar à de Manuel Alegre. Mesmo que não fosse, um candidato a PR não deve defender causas que não o serviço ao país, pois o papel do Presidente é suposto ser equidistante em termos ideológicos e partidários, não interferindo na governação, só assim podendo ser o moderador e o árbitro dos poderes políticos. Que em eleições legislativas, um partido defenda a Regionalização (ou outra causa qualquer) faz sentido; mas um candidato a Presidente da República defender causas é a mesma coisa que um árbitro de futebol que promete favorecer uma equipa. Absurdo.
Assim, à falta de um debate sério, Cavaco e Alegre chafurdam na lama, e com eles arrastam a imprensa e alguma blogosfera que, histérica, ou pede provas da honestidade que não se adivinha nos seus chefes, ou coloca a mão no fogo pela honestidade de Cavaco e morde tudo que possa colocar em causa a sua beatificação. Bastaria uma curta ronda pelas capas do defunto jornal O Independente e logo surgiriam casos bem mais interessantes que o BPN/SLN para atingir Cavaco Silva. Mas não: o Povo está com a corda na garganta e nada melhor para o irritar do que ligar Cavaco a um Banco saqueado. Cavaco é "um deles". Num ambiente destes, não admira que as figuras válidas se auto-excluam de eventuais aventuras presidenciais.
Mas ainda há a cereja no topo do bolo: como se não bastasse tudo o que atrás se disse, os debates na TV excluíram um dos candidatos: José Manuel Coelho. Nem ao menos a mais elementar lógica republicana, a mais elementar liberdade política, de expressão, de informação foi respeitada. Uma vergonha.
Sendo monárquico, não me agrada nem um pouco este abandalhamento da vida política nacional. Para todos os efeitos, em Portugal vigora a República Portuguesa e, mesmo discordando da sua existência, é esta instituição que comanda os destinos do país, pelo menos nos tempos mais próximos. Mesmo que fosse republicano, não encontraria nestas eleições razões para votar em nenhum dos candidatos. E sendo monárquico, a tentação será de não participar nestas eleições para um cargo de que discordo. E a vontade de nem sequer pôr os pés na assembleia de voto é grande, apesar de votar sempre. Mas o facto é que é à República Portuguesa que tenho de pagar os impostos, e era o que faltava é que não aproveitasse esta rara ocasião para fazer valer o meu ínfimo poder, de me pronunciar sobre o rumo político do país.
Votarei, não em branco (que é um voto que fica por preencher), mas em nulo (não vá o Diabo tecê-las e "eu" acabar por votar contra a minha vontade). É triste chegar a esta opção, mas é o estado em que as coisas estão. Por isso mesmo será um voto de protesto.
Que melhores tempos venham!
7 comentários:
Muito bem dito, JQ.
Obrigado, Gi :)
O que disse João Quaresma é bem interessante, porque muita gente pensa o mesmo, sejam monárquicos ou repúblicanos. É óbvio que os dados estão viciados, a política em Portugal é uma partidocracia quase sem limites, em que a responsabilidade política não passa muitas vezes do papel. É certo que no caso do Presidente da República, a candidatura é unipessoal, mas trata-se de um caso excepcional, face a outras eleições em que escolhemos listas e não pessoas. Já para nao mencionar os assuntos mal resolvidos e tratados como fossem apenas propaganda e não problemas, para além dos casos de corrupção, tão esclarecidos quanto a nossa pobre justiça o vai permitindo. Como diria o saudoso Carlos Pinto Coelho, e assim acontece...
É uma partidocracia em Portugal e na maior parte da Europa, mas aqui é mais descardo e escandaloso. A RTP acabou por entrevistar o José Manuel Coelho, mas de uma forma que Judite de Sousa nunca faria aos outros candidatos. A RTP, querendo fazer bonita figura, mostrou mais uma vez como é uma televisão de regime, incapaz de independência política.
A razão de fundo é que, por mais voltas que se dê, o sistema republicano semi-presidencialista não tem como funcionar, não se pode esperar independência de um presidente sendo que este precisa dos partidos para ser eleito. É um cargo que prolonga o jogo político-partidário.
João Quaresma, vou comentar algumas passagens tuas passo a citar-te:
«E a vontade de nem sequer pôr os pés na assembleia de voto é grande, apesar de votar sempre. Mas o facto é que é à República Portuguesa que tenho de pagar os impostos, e era o que faltava é que não aproveitasse esta rara ocasião para fazer valer o meu ínfimo poder, de me pronunciar sobre o rumo político do país».
É o que eu também penso. Se ninguém votasse, qualquer dia, estes políticos da treta que nos (des)governam, ainda acabavam com as eleições precisamente com o argumento de que ninguém vota.
Por isso é que voto sempre para não lhes dar esse argumento.
«Votarei, não em branco (que é um voto que fica por preencher), mas em nulo (não vá o Diabo tecê-las e "eu" acabar por votar contra a minha vontade). É triste chegar a esta opção, mas é o estado em que as coisas estão. Por isso mesmo será um voto de protesto».
É exactamente o que eu penso.
Nunca votei, nem votarei em branco, sei lá se alguém não põe lá a cruzinha por mim.
No actual estado de coisas considero fortemente, e pela 1ª vez, ir lá e riscar o boletim de voto todo de alto a baixo. Como voto de protesto como a política está a ser conduzida em Portugal. E Porquê?
Considerando os candidatos, e vou começar pelo fim:
José Coelho, Denfensor de Moura, Fernando Nobre e Francisco Lopes não são para serem levados a sério.
O Coelho porque é a candidatura circense da praxe que visa apenas irritar o Cavaco e o Jardim, é uma candidatura para «o campeonato da Madeira».
O Defensor de Moura é um pobre diabo que apenas quer dizer para dentro do PS que existe.
O Fernando Nobre é uma candidatura osquestrada pelo Marocas para lixar o «candidato-poeta», além de ser uma candidatura cheia de banalidades e de lugares comuns.
O Francisco Lopes é outro pobre diabo que serve apenas para os comunas marcarem terreno e terem tempo de antena.
Manuel Alegre não passa de um esquerdista completamente «demodé», com uma candidautra ultrapassada e completamente quixostesca. O tipo não percebe minimente como funciona um país.
Resta Cavaco que seria o meu voto óbvio, pela competência técnica e seriedade ao longo dos anos. No entanto o seu mandato desiludiu-me, promulgou diplomas contra os quais se manifestou, «não puxou as orelhas» como devia ser a este governo de incompetentes e «last but not the least» foi arrastado para este lamaçal que é o BPN, onde entrou pela mão de duas criaturas pouco recomendáveis: Oliveira e Coste, actualmente preso por forte suspeita de ter cometido crimes como: falsificação de documentos, burla agravada, gestão danosa etc, e o sabujo do Dias Loureiro, que entrou para o PSD com «as calças rotas» que ficou milionário num apíce e que só não está preso, porque se pirou para Cabo Verde.
A imagem de pessoa séria que Cavaco Silva construiu ao longo deste anos todos, caiu pela base. Por isso considero como altamente provável, o meu voto ser nulo. É um voto de protesto contra a imundice que é a poítica em Portugal.
Paulo Lisboa: totalmente de acordo.
Ainda estou a hesitar entre o voto nulo e nem sequer ir votar como forma de protesto. Esta eleições como muitas outras são previsíveis. Este povo não tem emenda e os políticos que são uma bela treta também não
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