terça-feira, 18 de dezembro de 2007
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
A redescoberta do mar, a redescoberta da pólvora.
Editorial de André Macedo no Diário Económico de ontem:
O burro e o mar
O Ministério da Economia pediu um estudo a uma agência de publicidade para entender melhor como os outros mercados olham para Portugal.
André Macedo
Não seria preciso grande esforço intelectual para chegar às conclusões apresentadas, mas as que chegaram às mãos do Governo revelam alguma graça e desgraça – desde que se tenha alguma capacidade de humor. À pergunta: a que animal associa Portugal, a maioria respondeu: o burro. Poderia ter sido a águia – que nos faria voar de contentamento. Ou o touro – que nos faria inchar de orgulho. Infelizmente, calhou-nos o burro. Ninguém gosta de ser o burro, mas é esse o fardo que carregamos sem grande esperança e sem nenhuma espécie de inquietação.
Mas porquê o burro?
É evidente: somos um país velho, lento e desgastado. Um país que as empresas estrangeiras e os turistas não visitam para comprar novas tecnologias, ‘design’ ou procurar conhecimento. Somos, regra geral, simpáticos e disponíveis. Estamos habituados a sacrificar-nos e a ver os outros andar mais depressa sem grande perturbação – excepto nas estradas. Não somos competitivos, apesar de acharmos que sim, e passamos a vida a remoer a mesma palha seca, sem rumo definido e sem estratégia, embora às vezes acreditemos que, afinal, vivemos, num oásis rico e confortável. Más notícias: não vivemos.
É por isso que a campanha para promover o país, que o Governo apresentará hoje, em Lisboa e no Porto, deve ser olhada com curiosidade e desconfiança. Curiosidade porque é interessante observar como nos vemos ao espelho e nos queremos projectar para fora. Desconfiança porque a campanha será puro desperdício se não for o reflexo daquilo que realmente somos e do que queremos ser amanhã.
Já sabemos que temos futebolistas e fadistas, como antes tínhamos fundistas (Carlos Lopes e Rosa Mota). Que produzimos boa cortiça, vinho e azeite, embora só a primeira tenha peso internacional. Que temos boas praias e golfe, apesar da destruição e da falta de planeamento. Mas, num país de palmo e meio, falta um eixo que agarre tudo, lhe dê coerência e nos torne competitivos. O turismo e os serviços não chegam. A maquinaria de média tecnologia – que cada vez vendemos mais –, não tem grande futuro. E então? Cavaco Silva apontou recentemente para o mar. Não é genial, não é, sequer, novo: o presidente da República não descobriu a pólvora, nem o Brasil, mas é evidente que a aposta faz sentido.
Já temos, em Lisboa, a Agência Europeia do Mar, o Oceanário e uma enorme costa atlântica com uma zona económica exclusiva sem paralelo na UE: é a quinta maior do mundo e tem 18 vezes a nossa superfície terrestre. Deveríamos ser, por isso, o país dos estaleiros navais, do ‘design’ dos barcos, da investigação e do conhecimento marítimos, da energia das ondas, da indústria dos congelados – além do país das praias, claro. Nada disto empurraria Portugal para o fundo; pelo contrário, puxaria para cima, com inteligência e qualidade. Hoje burros, amanhã sardinhas, golfinhos…. Dava uma boa campanha e, melhor ainda, garantia algum futuro.
O burro e o mar
O Ministério da Economia pediu um estudo a uma agência de publicidade para entender melhor como os outros mercados olham para Portugal.
André Macedo
Não seria preciso grande esforço intelectual para chegar às conclusões apresentadas, mas as que chegaram às mãos do Governo revelam alguma graça e desgraça – desde que se tenha alguma capacidade de humor. À pergunta: a que animal associa Portugal, a maioria respondeu: o burro. Poderia ter sido a águia – que nos faria voar de contentamento. Ou o touro – que nos faria inchar de orgulho. Infelizmente, calhou-nos o burro. Ninguém gosta de ser o burro, mas é esse o fardo que carregamos sem grande esperança e sem nenhuma espécie de inquietação.
Mas porquê o burro?
É evidente: somos um país velho, lento e desgastado. Um país que as empresas estrangeiras e os turistas não visitam para comprar novas tecnologias, ‘design’ ou procurar conhecimento. Somos, regra geral, simpáticos e disponíveis. Estamos habituados a sacrificar-nos e a ver os outros andar mais depressa sem grande perturbação – excepto nas estradas. Não somos competitivos, apesar de acharmos que sim, e passamos a vida a remoer a mesma palha seca, sem rumo definido e sem estratégia, embora às vezes acreditemos que, afinal, vivemos, num oásis rico e confortável. Más notícias: não vivemos.
É por isso que a campanha para promover o país, que o Governo apresentará hoje, em Lisboa e no Porto, deve ser olhada com curiosidade e desconfiança. Curiosidade porque é interessante observar como nos vemos ao espelho e nos queremos projectar para fora. Desconfiança porque a campanha será puro desperdício se não for o reflexo daquilo que realmente somos e do que queremos ser amanhã.
Já sabemos que temos futebolistas e fadistas, como antes tínhamos fundistas (Carlos Lopes e Rosa Mota). Que produzimos boa cortiça, vinho e azeite, embora só a primeira tenha peso internacional. Que temos boas praias e golfe, apesar da destruição e da falta de planeamento. Mas, num país de palmo e meio, falta um eixo que agarre tudo, lhe dê coerência e nos torne competitivos. O turismo e os serviços não chegam. A maquinaria de média tecnologia – que cada vez vendemos mais –, não tem grande futuro. E então? Cavaco Silva apontou recentemente para o mar. Não é genial, não é, sequer, novo: o presidente da República não descobriu a pólvora, nem o Brasil, mas é evidente que a aposta faz sentido.
Já temos, em Lisboa, a Agência Europeia do Mar, o Oceanário e uma enorme costa atlântica com uma zona económica exclusiva sem paralelo na UE: é a quinta maior do mundo e tem 18 vezes a nossa superfície terrestre. Deveríamos ser, por isso, o país dos estaleiros navais, do ‘design’ dos barcos, da investigação e do conhecimento marítimos, da energia das ondas, da indústria dos congelados – além do país das praias, claro. Nada disto empurraria Portugal para o fundo; pelo contrário, puxaria para cima, com inteligência e qualidade. Hoje burros, amanhã sardinhas, golfinhos…. Dava uma boa campanha e, melhor ainda, garantia algum futuro.
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Lava mais branco,
Portugal sobre as ondas
sexta-feira, 7 de dezembro de 2007
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