quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Eleições: «Ganhou o Iberismo»

Não sou eu que digo: é o La Vanguardia.

«Gana el iberismo (comercial)

Las elecciones portuguesas las ha ganado el iberismo. No la Iberia idealizada por personajes tan diversos como Fernando Pessoa y Agustí Calvet Gaziel, Henriques Moreira y Francesc Pi i Margall, Oliveira Martins y Francesc Macià, sino el moderno iberismo comercial, el poderoso entramado de intereses que España y Portugal han ido tejiendo desde su ingreso simultáneo en la Comunidad Económica Europea en 1986.

El dinero ha apostado por José Sócrates como garante de una integración económica peninsular que ya no tiene marcha atrás. Y los portugueses cansados de la plastificada mercadotecnia del líder socialista (escuela Zapatero), no han encontrado una alternativa sugerente en la candidata del centroderecha, pilotada a distancia por el presidente de la República, Aníbal Cavaco Silva. La señora Manuela Ferreira Leite quiso ganar las elecciones con tres mensajes de ligero sabor salazarista: regreso a la austeridad de una república contable, renuncia al tren de alta velocidad entre Lisboa y Madrid, y reactivación de los prejuicios antiespañoles, todo ello empaquetado en una valiente campaña antimediática.»
Curioso: não sabia que já o Salazar era contra o TGV...
Nota: a bandeira acima é a da Federação Ibérica proposta em 1854, e não é mais do que o aproveitamento da bandeira da companhia de navegação inglesa Peninsular and Oriental Steam Navigation Company.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Votar com responsabilidade

Num filme-manual de condução em todo o terreno feito pela Land Rover nos anos 70 (disponível aqui e aqui), depois de ser ensinada toda a espécie de técnicas de uso do jipe, a lição termina dizendo: «Aprenda a usar o seu veículo correctamente. Lembre-se: um Land Rover atolado é um embaraço para o proprietário e má publicidade para a marca».

Podemos dizer o mesmo do direito ao voto em Democracia.

Deve ser usado com conhecimento de causa e com sentido de responsabilidade. Um país democrático atolado é um embaraço para o seu povo e má publicidade para o modelo de regime.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Só falta a fraude eleitoral.

Uma das funções das embaixadas é, para além de representar os respectivos países, a de reportarem informações e elaborarem relatórios sobre o país onde estão, de forma a manterem os respectivos governos a par do que se passa. Para além do que é mais óbvio, como o acompanhamento da politica interna e externa, é feita a abordagem da situação económica, o desempenho e o prestígio dos políticos e forças vivas, o moral do população, o funcionamento das instituições, as perspectivas de futuro e os cenários de evolução da situação.

Irá ser interessante, daqui a umas décadas, consultar os arquivos diplomáticos estrangeiros sobre o que as suas embaixadas em Lisboa têm relatado da vida portuguesa nos últimos tempos, e da avaliação do estado do país. Os casos de suspeita de corrupção, DVDs de uma polícia estrangeira a incriminarem o Primeiro-Ministro, credibilidade da justiça, relações da imprensa com o poder político, ministros a fazerem chifres no parlamento, arguidos candidatos, noticiários cancelados, acusações de espionagem ao Presidente da República feita pelo Governo, acusações de lobby castelhano... e o que mais surgir.

E não me admiraria que o que surgisse a seguir fossem acusações de fraude eleitoral no Domingo. Talvez por isso nestas eleições os partidos tenham mobilizado muito mais os seus militantes para fazerem parte das assembleias de voto. É que, não só a disputa pelo votos será muito renhida, como os dois principais partidos têm muito a ganhar e muito a perder. Para muitos, a perda das eleições significará o regresso ao desemprego e por isso tudo vale.

Uma possivel descrição que as embaixadas em Lisboa estarão a fazer é: uma guerra civil travada por todos os meios menos os violentos. Procurando olhar as coisas com alguma distância, é isso que eu vejo.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

As eleições mais deprimentes de sempre

A campanha eleitoral não o tem sido, em larga medida. Não se tenta convencer ninguém: luta-se pelo poder. Numa batalha de lama, PS e PSD comportam-se como duas prostitutas velhas à bulha pela posse de uma esquina onde já ninguém pára. O CDS tem o mérito de ter colocado as PMEs na agenda e de ser o único partido com preocupações com a agricultura; mas não chega ao ponto de propor medidas concretas neste sector para além de dar os subsídios em falta. O BE, que dantes se proclamava a ovelha negra da política portuguesa, o anti-partido contra o sistema, apresenta-se hoje como uma alternativa de coligação para um governo do sistema, apesar das embaraçosas burrices que incluiu no seu programa. O PCP afunda-se no seu ridículo. Dos ditos pequenos partidos, destaca-se o MEP, com um cocktail de propostas sociais-democratas há muito conhecidas dos discursos do PS, PSD e CDS, sendo a maioria dos restantes pequenos partidos uns meros grupos de pessoas a brincarem aos partidos.

Das questões que afectarão o país, não só nos próximos 4 anos, mas nas próximas décadas, nada. Nada sobre um projecto nacional, que não o de um quintal de partidos políticos, um mercado reduzido a um feudo do Estado e a uma coutada de grupos económicos, e de um território onde a lei e a ordem são cada vez mais precárias.

É catastrófico que nas eleições gerais num país onde o Estado está em tudo e em todo o lado, o debate seja sobre coisa nenhuma. É o caminho da escravatura, ainda que encapotada.

Esta semana, na apresentação do seu novo livro "A Circunstância do Estado Exíguo", o Prof. Adriano Moreira abriu mais uma vez os olhos de todos para o que será a condição de Portugal num futuro próximo - resta saber se não é já a presente. Com a lucidez e o realismo que o tornam numa das grandes figura do Portugal contemporâneo, foi referindo os factos que nos estão a condenar a sermos um país falhado: irrealismo das opções de política externa e comercial, inacessibilidade das elites ao poder, acolhimento irresponsável de imigração desregrada, abandono do espaço rural e do mar, desbaratamento do poder cultural e - no que somos acompanhados por todo o Ocidente - a perda de valores e consequente empobrecimento cultural.

O público presente no auditório do IDN aplaudiu de pé, consciente de que ouvira um discurso de alcance histórico.

Mas serão poucos, dos que ali estavam, que ousarão ter as mesmas opiniões cá fora. Concorda-se mas ninguém se quer queimar repetindo ideias politicamente incorrectas. Cá fora, não convém contrariar o sistema e tentar interromper o processo. O caminho para deixarmos de ser um país e tornarmo-nos numa mole de acéfalos falidos e impotentes fica aberto e pavimentado pelas conveniências.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Porque somos tão atrasados

(Camilo Lourenço, no Jornal de Negócios).

Dois factos ocorridos ontem mostram como funciona o Portugal empresarial: a insolvência da Qimonda Solar e da Rhode. Aparentemente nada as une. Uma quer fazer painéis fotovoltaicos, a outra faz calçado de baixo custo. Na Qimonda o Governo forjou um consórcio com empresas privadas (DST, Visabeira, EDP, BCP, BES...) e públicas (capital de risco) para dar asas a um projecto da Qimonda e da Centro Solar. Objectivo: ocupar 400 pessoas que ficariam sem emprego com o fecho da Qimonda. Poucas semanas depois ninguém se entendeu e o projecto foi pelo cano.
No caso da Rhode também lá anda o dedo do Estado. A empresa, que emprega 984 pessoas, vai apresentar-se à insolvência (a 20 dias das eleições...) e tentar um plano de recuperação.
Tal como na Qimonda o plano é "apadrinhado" pelo Governo: os trabalhadores dizem até que o plano foi sugerido pelo ministro da Economia.
Onde é que isto nos deixa? Tal como na Qimonda Solar o mais provável é que daqui a umas semanas, sem comprador, o destino dos trabalhadores seja o... desemprego.
Os mais ingénuos dirão que o Estado não se pode alhear quando estão em causa milhares de empregos. Errado: deve ficar o mais longe possível deles. Porque nenhuma das empresas tem viabilidade sem novos investidores. E eles não surgem por boa razão...! Meter o Estado nestes processos, fingindo que pode resolver problemas, só faz duas coisas: cria falsas esperanças (adiando a reconversão dos trabalhadores) e atrasa a renovação do tecido empresarial.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Futecarro

Há sempre um novo desporto por inventar.