segunda-feira, 27 de junho de 2011

Eurodúvidas

Nunca fui um entusiasta do Euro: concordei que tivéssemos aderido à moeda única por puro pragmatismo. Primeiro, porque assim os políticos portugueses estavam impedidos de desvalorizar a moeda; segundo, porque a adesão implicava a imposição de alguma disciplina nas contas públicas; terceiro, porque obrigava a economia portuguesa a modernizar-se e a tornar-se mais eficiente, por já não poder contar com a "batota" das desvalorizações da moeda. Dez anos volvidos, tenho de reconhecer que os dois últimos argumentos falharam redondamente: estamos falidos e a nossa economia continua a ser tudo menos competitiva no contexto europeu. Em ambos os casos, a culpa foi dos governos portugueses e da complacência de Bruxelas. Razão pela qual, na minha opinião, continua válida a nossa pertença à moeda única: se saíssemos seria para o governo português desvalorizar o Escudo de imediato, o que não é razoável.

O que aconteceria se Portugal anunciasse que abandonaria o Euro e retomaria o Escudo de forma a poder desvalorizar a sua moeda, e assim tornar as exportações mais competitivas? Simples: o Euro continuaria a existir e os portugueses correriam aos bancos para levantarem o seu dinheiro (em Euros) antes que desvalorizasse. Rebentava o sistema financeiro português.

Mas mesmo ignorando esta consequência imediata, o facto de irmos desvalorizar o Escudo seria por si só negativo. O que é que aconteceu nos 20 anos a seguir ao 25 de Abril em que desvalorizámos o Escudo consecutivamente foi que se desvalorizaram os capitais nacionais, os salários, as reformas, as rendas. O que já não foi pouco e, embora ninguém apareça a apontá-la, é uma das razões para a falência em que estamos. Se voltássemos a fazer isso, retomaríamos a receita para o desastre, mas agora também aumentaríamos a dívida externa contraída e os fluxos de capitais correspondentes às importações, nomeadamente a factura energética.

Por isso, falar em sairmos do Euro não é sequer uma opção. Só nos conviria voltarmos ao Escudo apenas se a moeda única acabasse no seu todo, para toda a gente. O que não é uma hipótese a excluir, da maneira como a União Europeia se afunda na decadência, sem que possamos fazer o quer que seja, num sentido ou noutro.

O que devemos, responsavelmente, fazer é preparar-nos para esse cenário, caso se verifique. É outra grande tarefa a somar à recuperação das contas públicas.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

quarta-feira, 22 de junho de 2011

XIX Governo

Alguns apontamentos:

1. Confesso que estava céptico quanto ao novo governo, sobretudo a partir do momento em que reapareceram em cena algumas figuras de má memória, como Fernando Nogueira. Temi que viesse aí mais do mesmo. Mas não, pelo contrário: as escolhas do PSD parecem enterrar definitivamente o cavaquismo. Pedro Passos Coelho está a surpreender-me pela positiva e, pelo que vi até agora, está a parecer-se com o primeiro ministro de que Portugal precisa; oxalá não venha a desiludir. Além de quadros do seu próprio partido, foi bastante bem sucedido nos independentes que incluiu na sua equipa. O CDS aposta em gente enérgica e determinada, que tem demonstrado conhecimentos, e comprovadamente com ganas para enfrentar problemas. Penso que estamos perante o primeiro governo de Direita em Portugal nesta III República.

2. Em Portugal, as instituições prezam muito quem «é da casa», quem «conhece os cantos à casa», com reconhecidos cabelos brancos (muitas vezes de incompetência) o que na maioria das vezes significa que esse alguém não vai mudar nada nessa «casa», nem contrariar os interesses instalados, por muito que a «casa» em questão precise de uma grande limpeza. Por esta lógica, o melhor ministro da saúde que se pode desejar será um médico, o melhor da educação será um professor, e por aí adiante; e depois é o que se sabe. Pois bem, neste governo nenhum ministro é «da casa», o que é precisamente aquilo de que o país precisava há muito: pedradas no charco. Melhor ainda (e pior ainda para os poderes instalados), trata-se de sangue novo, gente (em princípio) sem telhados de vidro. Vão ter trabalho muito difícil pela frente, mas também vão ser difíceis de contrariar.

3. Serão poucos os ministros que não terão de travar guerras totais, de tão diametralmente opostos que são aos poderes instalados. Nuno Crato contra todo o M. da Educação mais os subsídio-dependentes da "Kultura", Paulo Macedo para por ordem no fartar vilanagem do SNS, Álvaro Santos Pereira com a questão das PPP, Paula Teixeira da Cruz contra o establishment da Justiça, e Paulo Portas para colocar em prática uma política externa à medida das necessidades actuais do país, que inclua a aproximação a outros países e espaços que não apenas os habituais, e com ganhos concretos. Temos de ter o bom senso de reconhecer que o nosso ciclo europeu acabou e adaptar-nos às novas circunstâncias, sem mais perdas de tempo do que o estrictamente necessário enquanto membros da UE, enquanto esta durar.

4. É também a chegada da minha geração a pastas ministeriais, e com elementos vindos do sector político com soluções válidas para o país. Há 20 anos, éramos a «geração rasca», mas o facto é que são alguns de nós quem vai atacar de frente a situação calamitosa deixada por tanta "modernização" feita pelos "revolucionários" vindos das duas gerações precedentes.

5. Pedro Passos Coelho cresceu em Angola. Paula Teixeira da Cruz e Assunção Cristas nasceram em Luanda. Angola é hoje um dos principais parceiros comerciais de Portugal, além de destino e origem de investimento. Dezenas de milhares de angolanos escolheram viver em Portugal, e 400 mil portugueses mudaram-se para Angola nos últimos anos. Não são os cínicos "ventos da História", que pretenderam colocar "colonizados" e "colonialistas" para sempre em lados diferentes de um muro artificial, ideológico e racista, que foi imposto por interesses de terceiros. Não: são as voltas que o Império dá!

6. As atenções estão viradas para a economia e finanças, e para as reformas do Estado. Mas uma das áreas em que o novo governo tem desafios mais importantes pela frente é precisamente aquela a que o país está mais desatento e que tem sido mais preterida na atribuição de recursos: a Defesa. Portugal está hoje na circunstância de estar inserido num bloco europeu politica e economicamente problemático; e num bloco militar em acelerada decadência, com os EUA enfraquecidos e relutantes em auxiliar a Europa; e aliados europeus (a começar pelo nosso aliado mais antigo) empobrecidos e moralmente fracos, que se desarmaram e não são minimamente capazes de responder às suas próprias necessidades, quanto mais fornecer meios para nos auxiliar em caso de necessidade. Há também sinais de uma possível desintegração de Espanha e, por outro lado, uma agressividade internacional crescente, em parte produto da crise económica. Para grande azar nosso, esta circunstância estratégica (a mais grave desde o fim da Guerra do Ultramar) dá-se no pior momento económico em mais de 100 anos, o que nos dificulta a renovação de meios e impede de adquirirmos capacidades que compensem a ausência de aliados credíveis. Por isso, e ao contrário do que se possa pensar, a tarefa que espera o Dr. José Pedro Aguiar Branco é tudo menos menor e simples: é um trabalho meticuloso e realista de decidir onde gastar o limitadíssimo orçamento de que disporá. A prioridade deve ser dada à Marinha, onde a necessidade é mais urgente e que actua no espaço que nos é mais determinante; e onde existe a vantagem de podermos recorrer à produção nacional, além de impulsionar exportações. Mas não é só a Marinha. E - pela vossa riquíssima saúde! - não cortem ainda mais nos efectivos.

7. O que se anuncia com este novo governo é um período de corrida pela salvação nacional, de correcção de problemas criados ao longo de décadas, e de normalização da realidade nacional. E insisto bastante neste aspecto: Portugal precisa de voltar a ser um país normal. Chega de sermos tubo de ensaio de experiências ideológicas, de destruirmos o que se tem e se sabe que funciona em nome de experimentarmos receitas que se calculam erradas, por vezes desastrosas. Chega de projectos inviáveis e dos argumentos fantasiosos que são usados para os justificar. Chega de pretensas causas, demagógicas e populistas, que tantas vezes escondem intenções totalitárias. Temos passado por um processo de bananização, de abandalhamento das instituições e dos indíviduos. Isto tem que ser revertido.

Portugal tem de voltar a ser um país normal!

7. Tenha-se votado ou não, sendo do agrado ou não, o facto é que este governo formado pelo PSD e o CDS será o Governo Português durante os próximos anos. Pedro Passos Coelho é o nosso Primeiro-Ministro. Se quisermos que o país se recupere devemos apoiar este governo. Se discordarmos do rumo seguido, devemos apontar soluções alternativas e ser construtivos. Mas este não é o momento nem nos podemos dar ao luxo de fazermos oposição por mero egoísmo ou capricho. Não podemos continuar como até aqui. Temos de recuperar mais do que as finanças e a economia: temos de recuperar os nossos valores, a nossa auto-estima e o nosso orgulho perante os outros povos.

Para que um dia, se Deus quiser, possamos dizer: «Batemos no fundo, sim. Mas recuperámos e agora estamos de pé!»

O país tem de se colocar no rumo certo e de dar o litro. Temos de estar unidos e dar o tudo por tudo.

Boa Sorte Dr. Pedro Passos Coelho e restante Governo!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Um traste



Está a tornar o Reino Unido numa parvónia desarmada e depois faz isto: Cameron humiliates first sea lord over Libya in Commons. Um autêntico canalha.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Silêncio

É um tema que tem sido dominante na política nacional desde há muitos anos, mas apesar disso esteve ausente da campanha eleitoral. Um autêntico tabu. No entanto, e segundo o notíciário das 13h da TVI da passada quarta-feira, é um dos assuntos em que existia discórdia em PSD e CDS. Entretanto não vi essa notícia ser retomada por mais ninguém, nem pela própria TVI. Estamos em silêncio.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Portugueses que devem inspirar outros portugueses

Há muitos, mas hoje lembrei-me destes:







E Viva Portugal!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Laranjada muito aguada

Do Estado Sentido:

Inesquecíveis foram as noites de vitórias eleitorais de outros tempos. Caravanas automóveis a perderem de vista, o delírio ruidoso avenidas abaixo, a miudagem empoleirada aos cachos nos camiões de caixa aberta. Bandeiras, cornetas, t-shirts com o símbolo vencedor, carros de som com o hino da campanha, risos, garrafas de cerveja, festa de arromba até às tantas. A mais memorável terá sido a vitória da AD em 1980, celebrada naquela madrugada de 1980, como se uma libertação fosse. Os Partidos contavam com uma juventude que militava sem receber um tostão, regalando-se com o prazer do convívio na colagem de cartazes, bancas de propaganda onde os contendores se provocavam mutuamente e sem consequências de maior, comícios a fazerem abarrotar o pavilhão dos Desportos, o Campo Pequeno o Terreiro do Paço ou a Alameda.

Ontem à noite foi quase deprimente ver como um acontecimento tão importante para o País foi tão pouco celebrado nas ruas, pelos próprios militantes. Apenas cerca de 200 a escutar o discurso de vitória de Pedro Passos Coelho; na Alameda, quando o PSD ganhou em 1991, eram 200 mil. Ontem, boa parte eram Jotinhas a comemorarem, não a mudança necessária no País, mas o tacho que os espera. Mas também havia veteranos, patriotas e desinteressados, alguns com bandeiras das eleições dos anos 80, que acharam que o se estava a passar era importante demais para ficar em casa a ver pela televisão. Como um deles me dizia, as pessoas enchem o Marquês de Pombal para comemorar as vitórias no futebol, mas não são capazes de fazer algo remotamente parecido quando o país muda de governo.

É um problema geracional, sem dúvida, em que as gerações mais novas quase não têm causas, projecto ou valores e agem quase exclusivamente por interesse. Mas não só: é acima de tudo um problema de como a política não é entendida como um serviço ao país, para o qual se deva mobilizar vontades e energias. Agora, basta que façam a cruzinha no quadrado certo, nem que seja por engano.

Hoje, e à excepção do PCP, os partidos fazem-se de pequenos grupos, de jornalismo afecto, de sondagens, de blogs, de sites, de sms e de soundbites: como se pudessem existir virtualmente e agir realmente. Cada vez mais os dirigentes fogem ao exame dos militantes de base. E depois admiram-se dos resultados àquem das expectativas e da abstenção elevada. As pessoas não se desinteressaram assim tanto da política: apenas estão fartas que a Política se desinteresse delas, e as trate como atrasadas mentais.

A Política 1.0 é um logro. Também por aqui o país precisa de voltar aos anos 80, quando as coisas eram feitas como deve ser.

Socialistas choram o fim da era Sócrates

Como irão agora conseguir viver sem ele?


O seu legado ficará para sempre na memória dos Portugueses: a aposta nas energias renováveis, os biocombustíveis, o computador Magalhães, a modernização do sistema de saúde (que incluiu crianças a nascerem em ambulâncias), o glorioso TGV para finalmente nos arrancar das trevas, nos ligar à Europa e que daria a Lisboa a honra de se tornar na praia de Madrid, a opção por um novo aeroporto de Lisboa na Ota (o único local possível de acordo com todos os estudos), o Aeroporto Internacional de Beja, a terceira auto-estrada Lisboa-Porto, a auto-estrada Sines-Beja, o novo Museu dos Coches, a venda de Cahora-Bassa por um valor simbólico, o pagamento da dívida de Angola à empresas portuguesas pelo próprio Estado Português, o casamento de homens com homens e mulheres com mulheres, o Acordo Ortográfico, a humilhação internacional mais absoluta... O Povo Português fica com uma grande dívida para com José Sócrates e seus seguidores; divida essa que será paga por várias gerações, incluindo os filhos dos que agora ficam órfãos políticos e laborais do Grande Líder.

domingo, 5 de junho de 2011