terça-feira, 30 de setembro de 2008

As árvores morrem de pé

Estamos a ficar sem ídolos. Dos grandes da época de ouro do cinema americano (ou será que devemos dizer do cinema, tout court?), que me lembre resta-nos apenas Elizabeth Taylor. Ainda são vivos outros actores de vulto dessa época como Joan Collins, Jennifer Jones e Robert Vaugh, mas nunca foram verdadeiramente estrelas.

Como acontece sempre nestas alturas, a Cinemateca Portuguesa deverá fazer um ciclo de homenagem a Paul Newman, provavelmente em Novembro. Serão de prever enchentes como poucas se viram na Barata Salgueiro.

De Paul Newman pouco resta dizer. Apenas que, tal como Marlon Brando, a sua carreira foi prejudicada e o seu talento menos aproveitado por se meter desnecessáriamente em política. Brando foi mais longe, cometendo um estúpido suicídio profissional ao recusar o Óscar de melhor actor como forma de se solidarizar com a luta de uma tribo de índios (de que ninguém mais ouviu falar e que hoje estarão, como todos os índios, felizes a gerirem os seus casinos nas suas reservas livres de impostos). E a carreira de Marlon Brando praticamente acabou, exceptuando o papel secundário em Apocalypse Now. Paul Newman fez a sua travessia do deserto e, apesar de um bom papel em A Calúnia só em meados dos anos 80, já com 60 anos, pela mão de Martin Scorcese em A Cor do Dinheiro é que verdadeiramente regressou (daí o «Hey: I'm Back!», a frase final do filme).

O preocupante é constatar que há pouca descendência profissional. Hoje existem poucos actores verdadeiramente de excepção: Jack Nicholson (uma lenda viva), Daniel Day Lewis (frequentemente apontado como um autêntico Nóbel, talvez o melhor actor de todos os tempos), Nicole Kidman (também apontada como a mais versátil da História do cinema), Gene Hackman, Robert de Niro, Al Pacino, Robert Redford, Michael Douglas, Jodie Foster, Dustin Hoffman, Leonardo di Caprio (talvez o sucessor de Paul Newman, muito graças a Martin Scorcese) e poucos mais.

Existem uns que, não sendo maus actores, têm acima de tudo presença (ao ponto de a construção dos respectivos personagens sair prejudicada): Morgan Freeman, Russel Crowe, Denzel Washington e Julia Roberts são disso exemplo.

Existe também uma legião dos que fazem carreira graças à aparência física, não importando se são bons ou mais actores: Angelina Jolie, Brad Pitt, Tom Cruise, Charlize Theron, George Clooney ou o intragável Matthew McConaughey.

E há ainda os que não são bons actores mas fazem figura de o ser, e têm o apoio da imprensa (por vezes apenas por razões políticas) que não se cansa de os elogiar: Sean Penn e Tim Robbins são os maiores exemplos.

Paul Newman era superior a isso tudo e por isso mesmo, por pertencer a uma elite com poucos descendentes, é que vai deixar saudades. Despediu-se - na minha opinião, em grande - ironicamente num filme de animação: Carros. Deu a voz a um velho carro de corrida, ex-campeão injustiçado e aposentado. Um papel que tinha tudo a ver com ele, que também foi piloto de competição. Um velho campeão que ensina um jovem e arrogante carro de corrida (Lightning MacQueen) os valores humanos que fazem a diferença entre vencer nominalmente corridas e ser um autêntico vencedor, dentro e fora das pistas. Toda uma lição de vida que poderia ser dada pelo próprio Newman.

Requiescat in Pace

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Os últimos dias de Pompeia - Episódio 4

Depois do assalto às finanças em Sacavém, falta o assalto ao Poder.

O Moçambique de 1973

Então, o território detinha uma rede infra-estrutural portuária e aeroportuária sem paralelo na África sub-saariana, com excepção de Angola (também portuguesa) e da África do Sul. Era o tempo - mal se previa a entrega do "Estado português de Moçambique" aos mil guerrilheiros de Machel - em que a economia moçambicana crescia 16% ao ano, em que não havia fome, a rede escolar e sanitária cobria a quase totalidade do território, Moçambique detinha a menor taxa de mortalidade infantil da região, a electrificação das zonas rurais caminhava a passos de gigante, os hospitais provinciais rivalizavam com qualquer hospital de Lisboa e a agricultura de subsistência sofria a metamorfose deciciva que a levava para os umbrais da agro-indústria vocacionada para a exportação. Há que lembrar estas coisas, sobretudo porque, para as novas geração intoxicadas de mentiras, a imagem de um Moçambique colonial entregue a capatazes das companhias majestátivas continua a fazer escola.

Miguel Castelo-Branco, no Combustões

Muitos exemplos haveria para citar sobre como Moçambique estava em 1973.

Por esta altura, um amigo meu trabalhava na Multiplásticos, uma empresa moçambicana que era tão somente o maior fabricante de plásticos de todo o continente africano. Entre muita outra coisa, fabricavam as "banheiras" (carroçarias em fibra de vidro) de buggies, de quem eram um dos grandes fabricantes mundiais, a esmagadora maioria para exportação. Os buggies Multiplásticos eram facilmente reconhecíveis por usarem os grupos ópticos traseiros do Peugeot 504.

Ao contrário do que é ideia corrente, Moçambique sempre foi a colónia mais próspera até 1970, ano em que foi ultrapassado por Angola. Nessa altura, tanto o PIB de Angola como o de Moçambique equivaliam a 2/3 do da Metrópole. E Moçambique não tinha petróleo, nem ouro, nem diamantes.

O Combustões também me deu a conhecer um dos blogues mais interessantes que já vi nos últimos tempos. Voando em Moçambique

Dia de cão

Hoje à tarde foi assaltado um empresário de ourivesaria, à saída de sua casa em Alvalade, tendo-lhe sido roubado o carro e, dentro dele, um milhão de euros em ouro e jóias. Mas os danos não ficaram por aqui.

É que graças aos débeis mentais da RTP, que mostraram bem a casa e a avenida onde o assalto aconteceu, agora todos os criminosos que viam o Telejornal ficaram a saber que naquela moradia cor-de-rosa que dá para aquela avenida de Alvalade, é a casa de um ourives por onde passam grandes quantidades de ouro e jóias. Não só o infeliz vai ter de encaixar um prejuízo de um milhão de euros e comprar outro carro, como vai ter de mudar de casa.

Foi um... serviço público prestado pela RTP.

domingo, 21 de setembro de 2008

Inveja

Partiu hoje de Lisboa, num cruzeiro turístico-científico do National Geographic Institute (o proprietário do navio) que levará os felizardos à Madeira, Canárias, Cabo Verde, Brasil e de regresso aos States. Inclui visitas, conferências e mergulhos nalgumas das melhores águas do Atlântico.
Raios os partam.

Chegou hoje

Vem da Nova Zelândia, e está a tentar bater o seu próprio record de dar a volta ao mundo em 60 dias, 23 horas e 49 minutos.
É integralmente construído em fibra de carbono, capaz de 40 nós (72 Km/h) e funciona a biodiesel.
Vai estar em Lisboa até Quinta-feira, e aberto a visitas. Já cá esteve antes, na doca de Alcântara, que se revelou pequena para este barco. Infelizmente, e após semanas de contactos, a Administração do Porto de Lisboa não arranjou sítio melhor para ficar que um local à entrada da Doca do Espanhol. Digamos que é o equivalente a ser-se convidado para um jantar a dois com a Nicole Kidman e ir buscá-la a casa num camião-betoneira.

Com o próprio comandante a dizer que este sítio é «useless», sugeri que mudasse para a Marina de Cascais onde terá condições condignas, visitantes em quantidade e visibilidade para o barco e para os patrocinadores, além de um sítio atractivo para descanso da tripulação.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Neil Diamond - Be

Foi a ouvir este senhor que aprendi a gostar de música.

Numas manhãs quentes de Verão, depois de um pequeno-almoço de pão saloio com manteiga e o leite com Coqui, com a luz dourada a entrar pela casa, e a olhar o mar chão, como se o mundo todo parasse, com respeito, para ouvir cantar o Neil Diamond, tocado num gira-discos dos anos 60 (que um dia destes tratarei de reparar). Coisas que ficam gravadas em nós para sempre.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

O caixote de Valsassina e Aires Mateus

"Uma petição para impedir a construção de um edifício no Largo do Rato foi entregue hoje na Assembleia da República. A petição chamada “Salvem o Largo do Rato” contém 4651 assinaturas e contesta a construção de um prédio de arquitectura moderna naquela zona de Lisboa. O grupo de cidadãos sugere um jardim para o espaço em vez da habitação."
No Público

Fala-se muito dos patos-bravos da construção mas não se fala dos patos-bravos formados aos milhares pelas faculdades de Arquitectura.

Estamos no escape da Europa

"Também na Polónia os preços dos combustíveis são altos, mas ao menos lá as pessoas têm uma atitude mais proactiva. Ao passo que em Portugal, o número de veículos a GPL é praticamente residual (se ultrapassar os 50.000 já é muito), na Polónia esse número já ultrapassou largamente a barreira do milhão de veículos."
No Divina Polónia.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

22 num 2CV

Mas já se fez melhor do que isto. Nos anos 80, numa edição do programa Passeio dos Alegres, de Júlio Isidro, uma equipa do Ginásio Clube Português bateu o recorde mundial de pessoas dentro de um Mini: 27. A minha professora foi para a mala.

Óleo na estrada

Depois de ter escrito sobre o óleo vegetal em uso por muitos automóveis, um taxista - aparentemente entendido no assunto - explicou-me que a maior parte dos taxis que o usam, misturam-no de facto no gasóleo, numa proporção de 50%. Os motores diesel mais antigos, com bomba de injecção convencional (e não injecção electrónica) não têm qualquer problema em aceitar o novo combustível misturado no gasóleo. E confirmou-me que, por causa disto, há de facto uma procura renovada por Mercedes antigos, com mecânicas "de guerra".
Também fiquei a saber que há oficinas que recolhem óleo usado em restaurantes, filtram-no e vendem-no a 50 cêntimos o litro. Bom negócio para todos (ambiente incluído) menos o Estado. Por isso é que já andam por aí controlar.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O único combóio que interessa é o TGV

De acordo com o Diário Económico, a CP está a negociar a venda de 50 a 100 carruagens à Argentina, depois de nos ultimos anos ter já vendido perto de 100 carruagens e locomotivas. Quanto à justeza dos valores, não estou em posição de os avaliar. Mas cito o artigo do DE:

"A CP tem desenvolvido uma relação especial de fornecimento de material circulante para a Argentina desde Junho de 2004, altura em que a empresa vendeu 17 unidades duplas (34 composições), a diesel, para via estreita, no valor de 3,333 milhões de euros."

34 carruagens por 660 mil contos? Uma carruagem por 19 mil contos? Por esse preço nem se compra meio autocarro.

Mas não é só para a Argentina que exportamos combóios. A EMEF, empresa pública formada a partir do ramo oficinal da CP, recebeu em Agosto uma nova encomenda de vagões para a Bósnia-Herzegovina. Depois de ter fornecido 356 vagões (e feito a reabilitação de 220), agora trata-se do fornecimento de 500 vagões, num negócio mais uma vez feito directamente entre os governos dos dois países. Óptimas notícias para a indústria portuguesa, que levaram a EMEF a aumentar a produção de vagões. Mas repare-se neste pormenor da notícia do DE sobre este contrato:

"Desde Abril de 2005, a EMEF, empresa participada da CP responsável pela prossecução deste acordo, tem vindo a cumprir favoravelmente o contrato, em que a verba encaixada não será certamente a principal vantagem a retirar da iniciativa."

Ah, bom. Percebe-se então a razão do sucesso dos nossos combóios no mercado externo.

Do que não há notícia é de novos combóios para equiparem a CP, substituindo o material que está a ser vendido. O Governo está a desinvestir da ferrovia, apesar da procura estar a aumentar, fruto do aumento dos combustíveis. O único combóio que interessa é mesmo aquele para o qual se sabe à partida que nunca terá mercado para ser viável: o TGV.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

E Deus criou a Mini

A actriz e modelo sueca Mini Anden, o rosto deste ano da portuguesa Throttleman.