domingo, 30 de janeiro de 2011

José Peixoto e Filipa Pais - Dia da Tentação

Gasolina a 5€ o litro?

A concretizar-se a queda da ditadura pró-ocidental que governa o país há três décadas, teremos muito provavelmente uma tomada do poder pela Irmandade Muçulmana, e um regime fundamentalista islâmico agressivo a controlar um dos países-chave para a segurança mundial. As consequências serão devastadoras a vários níveis. O facto da polícia egípcia abandonar os seus postos na fronteira com a Faixa de Gaza, deixando entrar combatentes do Hamas para se juntarem aos combates nas cidades junto Canal do Suez (onde o nível de violência tem sido maior e a atenção dos media menor) por si só já abre a possibilidade de uma intervenção militar internacional para manter a segurança e navegabilidade do Canal. É tão sério quanto isso.

E esta situação vai para além das fronteiras do Médio Oriente / Magrebe. O que poderá estar a passar para a opinião pública muçulmana é que se é possível derrubar ditaduras opressivas através de insurreições generalizadas, porque não fazer o mesmo na Europa, derrubando regimes "infieis", bananizados e incapazes de reagir com determinação? Não auguro nada de bom para as banlieues...

Sem dúvida que estamos a assistir no Egipto ao derrube popular de uma ditadura imensamente detestada, e que o povo egípcio merece crédito por isso. Mas o que virá a seguir é bastante preocupante e não deixa lugar a romantismos político-ideológicos.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Acordo Ortográfico? Ora Toma!

Não suporto o Acordo Analfabetográfico; aquele que Cavaco ratificou e Soares promulgou, e Cavaco ratificou em definitivo (versão final), em 2008.

É um atentado contra a Língua Portuguesa e, ao contrário do que é propagandeado, é um desastre para a influência portuguesa no Mundo, já que a Língua Portuguesa passa a ser uniformizada no Brasil; e o Português de Portugal, ou seja a nossa construção de frases, o nosso vocabulário e a nossa pronúncia deixam de ser considerados internacionalmente, por força da dimensão brasileira e pela simples razão que, agora e como já diziam os americanos, «Português é aquela língua que se fala no Brasil». Daí a que aquilo que nós temos para dizer deixe de ser ouvido, é um passo.

Não se soubesse da putrefacção que varre este país, e surpreenderia a prontidão com que a parasitagem politicamente correta correu a aderir ao analfabetismo promulgado.

Recorde-se o Acordo "só" é vinculativo para a «ortografia constante de actos, normas, orientações ou documentos provenientes de entidades públicas, de bens culturais, bem como de manuais escolares e outros recursos didáctico -pedagógicos, com valor oficial ou legalmente sujeitos a reconhecimento, validação ou certificação», apesar do Governo no ano passado ter anunciado que só seria aplicado a documentos oficiais (mais uma mentira). Alguma imprensa (e mais recentemente a RTP) já obedece à política do fato consumado. É a ação, é o direto, é o projeto, é a adoção do projeto, a exceção, a atualidade, o avião a jato, o setor económico.

É claro que sendo a norma seguida tão simplesmente a dos erros ortográficos praticados no Brasil, e não podendo nós portugueses adivinhá-los todos, já se pode ler na imprensa portuguesa coisas como receção (recepção), coisa que nem os brasileiros dizem.

Este código que nos é imposto é o que acontece quando não se diz como se escreve, e se deixa o hábito de dizer erros enraizar-se tanto que o analfabetismo se torna regra. E então, diz-se que a língua «evoluíu», e que agora se deve escrever como se fala - mal - porque é mais fácil isso do que ensinar muitos milhões de pessoas a falarem correctamente.

E acontece porque em Portugal vigora a ideologia do anti-patriotismo, de que tudo o que servir para abandalhar e empobrecer o país é que está correcto. Porque é que a nossa língua, a trave-mestra da nossa cultura e a nossa maior riqueza, haveria de ser excepção? O Povo que amoche, que já está habituado!

Pois é, mas comigo isso não funciona. Não autorizei ninguém a mudar a minha língua; não votei nunca em ninguém delegando esse poder; nunca ninguém me perguntou se eu concordava, que obviamente não concordo.

E, portanto, eu simplesmente não obedeço.

Não só não escrevo, como não compro nada que seja escrito nesta porcaria. Nem jornais, nem livros, nem sequer vejo filmes com legendas analfabetas. E algum livro que me interesse mas que esteja escrito em Analfabetoguês, não compro e espero até que saia publicado em Português, nem que seja em edição pirata a circular pela Internet (eureka!)

Se toda a gente agir assim, vai haver prejuízos que servirão de castigo por nos tratarem desta maneira, e haverá pressão para que o acordo seja anulado. E sem direito a indenização.

Incompetex

O Cartão do Cidadão já tinha dado problemas nas anterior eleições e já na altura se sabia porquê: a empresa que o MAI contratou para fundir a informação dos vários ministérios que emitiam os cartões que o CC pretende substituir, essa empresa adoptou uma divisão territorial que não é a administrativa (municípios, freguesias) mas a divisão postal, usada pelos CTT. Provavelmente é a mais racional, mas criou este enorme problema ao não coincidir com a divisão administrativa. Não seria nada do outro mundo, se as pessoas tivessem sido devidamente informadas da mudança, mas o facto é que não foram. E assim foi o caos que se viu, e que poderia mesmo ser motivo para repetir as eleições.

Seria pedir muito a este maravilhoso Estado Simplex-Pyrex-Durex (que não se esquece de nos contactar quando se trata de nos tirar o dinheiro) que, por uma vez, recorresse a uma medida tecnológicamente ultrapassada e pouco ecológica, e mandasse a toda a gente que tirou o Cartão do Cidadão nem que fosse um postal a informar onde é que deve votar?

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Presidenciais - o fim do casamento Cavaco+Sócrates?

1. No dia 16 de Março de 2006, quando Cavaco Silva tomou posse em Belém, reuniu-se com José Sócrates, tendo ficado acordada a "cooperação estratégica" entre os dois. Mas houve outra coisa que parece ter escapado à imprensa e, parece-me, a praticamente toda a gente: Cavaco e Sócrates combinaram contribuir para a reeleição um do outro. Alguém mais se lembra disto? Eu tenho tentado descobrir nas notícias da época, e não dou com nenhuma referência, mas lembro-me de ser dito.

E o facto é que já antes de Cavaco chegar a Belém ajudou a derrubar Santana Lopes (a "má moeda"), abrindo o caminho para Sócrates se tornar PM.

Em troca, nas Presidenciais de 2006, Sócrates apoiou Mário Soares (uma candidatura sem quaisquer hipóteses frente a Cavaco) e não impediu que uma parte importante do PS apoiasse Manuel Alegre, dividindo ainda mais o eleitorado PS.

Depois, foi a fase da lua-de-mel, com a máquina de propaganda socialista a promover Cavaco. Houve algumas birras, sem dúvida, para manter as aparências e não parecer que Cavaco era na realidade o presidente desejado pelo PS. Mas Cavaco fez tudo o que Sócrates pedia, inclusive aumentos de impostos desastrosos, e aprovar a lei do casamento de homens com homens e mulheres com mulheres, algo que o eleitorado que elegeu Cavaco nem remotamente alguma vez pensou que viesse a fazer. Mas o eleitorado gay ajudou a reeleger o PS, e Cavaco não podia deixar de ajudar a cumprir a promessa eleitoral de Sócrates, por muito que isso desagradasse aos que votaram nele.

Para as Legislativas de 2009, e perante a enorme impopularidade de Sócrates, Cavaco apadrinhou/patrocinou/orquestrou a chegada de Manuela Ferreira Leite ao poder no PSD: a única pessoa suficientemente desastrosa para impedir uma vitória do PSD nessas eleições.

O pacto Cavaco-Sócrates foi cumprido: Sócrates foi reeleito.

Próxima etapa: Presidenciais 2011. Sócrates apoia outro desastre: o inútil Manuel Alegre, já depois deste ser o candidato do Bloco de Esquerda. E, mais uma vez o eleitorado do PS é dividido, não por 2 mas por 3 candidatos, juntando-se Defensor Moura e o "independente" Fernando Nobre. O resultado só poderia ser a reeleição de Cavaco.

O pacto Cavaco-Sócrates mais uma vez foi cumprido.

Mas desta vez, e sendo a última vez que Cavaco ía a votos e a sua imagem pública julgada, o PS não quis deixá-lo escapar sem umas cicatrizes e a luta política passou das anteriores marcas e partiu para o ataque destrutivo da credibilidade de Cavaco, nomeadamente por via da imprensa pró-socialista e de um pseudo-candidato - Defensor Moura - cujo único propósito foi difamar Cavaco. E o facto é que, graças ao assunto SLN-BPN, o mito de um Cavaco Silva com uma honestidade acima de qualquer suspeita acabou. Cavaco ainda ripostou com críticas directas ao Governo, e com o histórico «Vocês precisavam de nascer duas vezes para serem tão honestos quanto que eu!». Mas isso só serviu para mostrar uma face agressiva que não se lhe conhecia. Em circunstâncias normais, Cavaco teria arrasado com 60% ou 70% dos votos, mas ficou-se por pouco acima dos 50%, com uma enorme abstenção e foi em grande parte eleito por ser o mal menor, frente a 5 nulidades.

Será que o pacto Cavaco-Sócrates acabou no Domingo? Pelo tom de Cavaco no discurso da vitória (frente a meia-dúzia de gatos constipados à porta do Centro Cultural de Belém...), vem aí vingança. Mas a política dá muitas voltas, e nunca se sabe o que é o dia de amanhã. Aguardemos para ver.

Agora que ficou tratada a questão de Belém, voltamos à agenda do momento: entrada do FMI e saída de Sócrates.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Fernando Nobre, de foice e martelo

Esta tarde, na Baixa, esbarrei com a campanha de apoio a Fernando Nobre, um cortejo de umas 50-60 pessoas, mas bastante esclarecedor: dir-se-ía que o candidato tinha contratado a CGTP para fazer campanha por ele. O mesmo rebanho comunista de sempre, essencialmente de estilo Fenprof, ajudado por rastas e chapitôs de cravo vermelho preso com fita-cola, a distribuírem panfletos, acompanhados por compagnons de route e de tambor (os Toca a Rufar), tudo de acordo com o modelo de manif do PCP, com a lenga-lenga «Portugal será diferente / Nobre presidente!». Uma clara adaptação do antigo «O Povo segue em frente / com Otelo presidente!».

É claro que, sendo esta uma candidatura encomendada por Mário Soares (ao que se diz, Fernando Nobre é primo do ex-PR Mário Alberto Nobre Lopes Soares - algo que eu teria gostado de ver a imprensa esclarecer), não faltou uma pitada de soarismo, em que reparei mais na ex-mandatária da juventude de Soares em 90, Margarida Pinto Correia.

Era evidente desde há muito que Fernando Nobre era de Esquerda, e próximo do PS: caso contrário a AMI não seria tão acarinhada pela imprensa (nomeadamente a SIC, a TV oficial do Largo do Rato) nem o seu fundador convidado para opinar nos telejornais. Por isso nunca "comprei" as convicções monárquicas de Fernando Nobre quando se fez passar por monárquico. Mas daí até fazer esta mini-manif do 1º de Maio, isso nunca pensei.

Sobre um indivíduo que faz campanha a falar em João Paulo II e na Doutrina Social da Igreja, e que depois a acaba com foices e martelos, o mínimo que se pode dizer é que andou a tentar vender gato por lebre.

Tirem o cavaquinho da chuva

Acho fantástico como alguns apoiantes de Cavaco vêm agora pedir votos à Direita. Porque senão,... é o horror, a tragédia, a calamidade!

Pergunto: que mais surpresas é que Cavaco tem reservadas para o segundo mandato? Mais cooperação estratégica, de maneira a aguentar Sócrates até ao fim do mandato? Um novo Tratado dos Estados Unidos da Europa sem direito a referendo? Ou será de União Ibérica? Legalização da pedofilia? Venda de território?

Deve ter a barriga a doer de tanto rir



O ministro das Finanças passa a controlar todos os Ministérios de modo a evitar derrapagens este ano, segundo a edição semanal do Expresso, antecipada para esta sexta-feira por causa das eleições presidenciais.
O ministro das Finanças passa a controlar todos os Ministérios com o objectivo de evitar derrapagens este ano, segundo a edição semanal do Expresso, antecipada para esta sexta-feira por causa das eleições presidenciais.

A Lei da execução orçamental, aprovada ontem, vai obrigar ministros a prestar contas todos os meses, refere o jornal.

Trinta de sete anos depois das chaimites saírem à rua, o pior ministro das finanças da Europa acabou por cair na real, dar a mão à palmatória e fazer o que sempre se soube que era necessário mas que passou a ser "proibido" porque era assim que se fazia no tempo da outra senhora: tirar o cartão de crédito à criançada.

Uma das medidas mais importantes na Economia portuguesa nas últimas 4 décadas - se realmente chegar a ser efectivada.

Foi preciso o país estar em vésperas de falência, de andarmos a pedir caridade a chineses, árabes e timorenses para comprarem a nossa dívida.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Cavaco, o agricultor

Quem não conhecer Cavaco que o compre.

Agora diz-se preocupado com o estado da Agricultura, como se não fosse um dos responsáveis pela destruição da maior parte desse sector, quando foi Primeiro-ministro. Vale a pena lembrar o TV Rural, um dos programas de verdadeiro serviço público, feito pela RTP em parceria com o Ministério da Agricultura, e que ao longo de três décadas prestou um inestimável serviço aos agricultores portugueses.

Mas com a entrada na CEE e com a política deliberada de destruição deste sector económico, a realidade da situação e as queixas dos agricultores cada vez mais transpareciam no TV Rural, embora o Eng. Sousa Veloso se esforçasse por levar a cabo o mesmo trabalho de sempre. O TV Rural tornou-se incómodo e o Ministério da Agricultura fechou-o, em 1991.

O Primeiro-Ministro na altura era Aníbal Cavaco Silva e hoje diz-se muito preocupado com o estado da Agricultura.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Peixeirada Lusa de Negócios

Se eu fosse republicano, estaria indignado e diria que esta campanha para as Presidenciais atingíu um baixo nível tal que é um insulto às instituições republicanas. Os republicanos portugueses mereciam mais.

Para começar, ainda não foi desta que os partidos se estrearam a fazer eleições internas para escolherem o seu candidato (e que melhor eleição para o fazerem?). Nem que fosse para comemorar o Centenário da República! Não, nada disso: os candidatos foram os escolhidos pelos directórios partidários e os militantes que se calem, que agitem as bandeirinhas e que votem como lhes mandam (e já agora que paguem a quotas).

Um dos argumentos invocados em favor do modelo republicano de regime é: «Em República, ao contrário da Monarquia, qualquer um pode ser o Chefe de Estado, pois não depende de pertencer a uma família em particular». É verdade, mas em teoria e apenas isso. Para se ser Presidente da República é preciso ser membro da família PS ou PSD há algumas décadas, e é preciso ser indigitado pelos mandantes do PS ou do PSD para que as respectivas máquinas partidárias e mediáticas o levem até Belém. Caso contrário, não há hipótese. E depois é a pobreza que se vê. Mesmo dentro dos dois maiores partidos, sem dúvida que se encontrariam personalidades com melhores atributos (para já não falar em currículos) para a chefia do Estado, que os militantes se encarregariam de escolher. Mas quando um PS que tem um Jaime Gama opta por um Manuel Alegre, está tudo dito sobre o funcionamento dos partidos. E, por mais discursos poéticos que se façam no 5 de Outubro, a verdade é esta: a República é dos partidos.

Em segundo lugar, o deserto de ideias dignas de discussão é quase completo. O único candidato que finge ter uma ideia subjacente à sua candidatura é Defensor Moura: a Regionalização. Digo finge, porque é evidente que o único propósito da candidatura de Defensor Moura é ser uma voz crítica de Cavaco Silva a juntar à de Manuel Alegre. Mesmo que não fosse, um candidato a PR não deve defender causas que não o serviço ao país, pois o papel do Presidente é suposto ser equidistante em termos ideológicos e partidários, não interferindo na governação, só assim podendo ser o moderador e o árbitro dos poderes políticos. Que em eleições legislativas, um partido defenda a Regionalização (ou outra causa qualquer) faz sentido; mas um candidato a Presidente da República defender causas é a mesma coisa que um árbitro de futebol que promete favorecer uma equipa. Absurdo.

Assim, à falta de um debate sério, Cavaco e Alegre chafurdam na lama, e com eles arrastam a imprensa e alguma blogosfera que, histérica, ou pede provas da honestidade que não se adivinha nos seus chefes, ou coloca a mão no fogo pela honestidade de Cavaco e morde tudo que possa colocar em causa a sua beatificação. Bastaria uma curta ronda pelas capas do defunto jornal O Independente e logo surgiriam casos bem mais interessantes que o BPN/SLN para atingir Cavaco Silva. Mas não: o Povo está com a corda na garganta e nada melhor para o irritar do que ligar Cavaco a um Banco saqueado. Cavaco é "um deles". Num ambiente destes, não admira que as figuras válidas se auto-excluam de eventuais aventuras presidenciais.

Mas ainda há a cereja no topo do bolo: como se não bastasse tudo o que atrás se disse, os debates na TV excluíram um dos candidatos: José Manuel Coelho. Nem ao menos a mais elementar lógica republicana, a mais elementar liberdade política, de expressão, de informação foi respeitada. Uma vergonha.

Sendo monárquico, não me agrada nem um pouco este abandalhamento da vida política nacional. Para todos os efeitos, em Portugal vigora a República Portuguesa e, mesmo discordando da sua existência, é esta instituição que comanda os destinos do país, pelo menos nos tempos mais próximos. Mesmo que fosse republicano, não encontraria nestas eleições razões para votar em nenhum dos candidatos. E sendo monárquico, a tentação será de não participar nestas eleições para um cargo de que discordo. E a vontade de nem sequer pôr os pés na assembleia de voto é grande, apesar de votar sempre. Mas o facto é que é à República Portuguesa que tenho de pagar os impostos, e era o que faltava é que não aproveitasse esta rara ocasião para fazer valer o meu ínfimo poder, de me pronunciar sobre o rumo político do país.

Votarei, não em branco (que é um voto que fica por preencher), mas em nulo (não vá o Diabo tecê-las e "eu" acabar por votar contra a minha vontade). É triste chegar a esta opção, mas é o estado em que as coisas estão. Por isso mesmo será um voto de protesto.

Que melhores tempos venham!

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Velhos são os trapos

Clássicos em Braga. O primeiro minuto e meio parece saído de um guião.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Coisas que passaram despercebidas em 2010 - 3

Notícia do Público, de 23 de Março:

"Um em cada cinco portugueses sofre de perturbações psiquiátricas
23.03.2010 - 17:30 Por Catarina Gomes

Um em cada cinco portugueses sofre de perturbações psiquiátricas, constata o primeiro estudo que faz o retrato da saúde mental em Portugal. Em comparação com dados de outros seis países europeus Portugal é o que tem a prevalência mais alta, com números que se aproximam dos Estados Unidos, "o país com maior prevalência de perturbações de psiquiátricas no mundo", disse hoje o coordenador nacional de Saúde Mental, Caldas de Almeida.

"Portugal tem um padrão atípico em termos europeus", constata o responsável, que apresentou hoje o estudo na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, em Lisboa. Isto porque o inquérito realizado junto de 3849 portugueses (uma amostra representativa da população portuguesa) revela que 22,9 por cento manifesta sintomas que os colocam na categoria da perturbação mental, um número que só se aproxima dos 26,3 por cento americanos.

A prevalência nacional está muito distante dos países do Sul da Europa - Espanha só tem 9,2 por cento de prevalência e Itália 8,2 por cento - e mesmo assim longe dos dois países com prevalências maiores, como é o caso de França (18,4 por cento) e a Holanda (14,8 por cento).

No topo dos problemas estão as perturbações de ansiedade (16,5 por cento), as perturbações depressivas (7,9 por cento), perturbações de controlo dos impulsos (3,5 por cento) e as perturbações relacionadas com o álcool (1,6 por cento).

O estudo constata que os mais afectados são as mulheres, os jovens dos 18 aos 24 anos, as pessoas mais sós (separados, viúvos e divorciados) e pessoas com níveis baixo e médio de literacia.

Analisado o acesso a serviços de saúde constata-se que a grande maioria dos que sofrem de perturbações não têm acesso a qualquer tratamento médico, mesmo tratando-se de problemas graves (como a depressão major) - neste grupo 33,6 por cento não recebe tratamento. Verifica-se que a maioria das pessoas com doença mental recorre sobretudo aos médicos de família."


Acontece que, ao contrário do que diz esta notícia, este não é o primeiro estudo destes que se faz em Portugal: recordo-me que no princípio dos anos 90 (creio que foi mesmo em 1990) já tinha sido feito, indicando que a taxa de incidência na população era de 10%, o que nos colocava na média europeia. Na altura achei bastante, mas o facto de no espaço de apenas 20 anos não só a situação não ter melhorado como ter aumentado em mais de 100% é perfeitamente calamitoso e diz muito do rumo que o país seguiu, para já não bater no sacralizado Sistema Nacional de Saúde. Nestas duas décadas, o consumo de anti-depressivos disparou, mas eu pergunto que mais medidas foram tomadas para lidar com este problema. Provavelmente, nenhuma.

Neste estudo, há outro número que ressalta: apenas 1,6% dos casos estão relacionados com o alcoolismo (pessoalmente, presumia mais). 35 anos depois do fim da Guerra do Ultramar, não surpreende que o stress de guerra (que, de acordo com as previsões, afectará 10% dos ex-combatentes) não surja como uma das causas principais. E fica claro que o bem-estar material não significa uma vida necessariamente melhor.

Podemos gracejar concluindo que Portugal tinha mais juízo no tempo em que bebia vinho do que agora que bebe água com gás. Mas o Portugal dos últimos 20 anos modernizou-se e europeizou-se, mas neste caso no pior sentido, superando os piores casos da Europa. Não me surpreende que a França seja, a seguir a nós, o pior caso da Europa. E também não surpreende que a Itália e Espanha gozem de melhor saúde mental que os restantes. Não são precisas muitas estatísticas: basta conhecer os povos.

O melhor saúde de italianos e espanhóis será, acima de tudo, o resultado da cultura cristã-mediterrânica, de um modo de vida mais saudável porque menos centrado no materialismo e nas aparências, no viver a vida e não no viver os números, e onde a família e os valores morais continuam a ser fortes, apesar das "modernizações" impostas à força por governos "progressistas".

Em Portugal, à conta de ilusões modernizadoras e de um enorme complexo de inferioridade, venera-se o mundo anglosaxónico e as sociedades pseudo-perfeitas do Norte da Europa; e, nalguns casos, implantam-se soluções soviéticas. E assim também se tem perdido o que temos e herdámos de bom de séculos de civilização - do nosso próprio modelo de civilização, que não deve ser desprezado.

As conclusões deste estudo revelam uma verdadeira catástrofe nacional, que ultrapassa em muito o domínio da saúde pública. Não explicam, obviamente, todos os problemas do país, mas podem ajudar a explicar bastantes: da falta de produtividade, aos níveis de stress no dia-a-dia, à conflitualidade laboral, familiar e até mesmo no trânsito (onde facilmente se detectam grandes sociopatias). Deveria ser um problema a ser atacado por futuros governos com a máxima decisão. Um país não pode esperar alcançar o sucesso com 20% de malucos - desculpem-me a frontalidade.

Mas por muitas medidas preventivas que se tomem no ensino, no mundo laboral, e até mesmo no ordenamento das cidades e do trânsito (evitando a confusão e a conflitualidade; não é preciso ser um especialista para se constatar as diferenças entre os níveis de stress de populações que vivem em bairros de moradias, mesmo das económicas, e as que vivem em bairros de grandes blocos de apartamentos, mesmo os de luxo), a mais importante será voltarmos a uma sociedade de valores, e de combatermos o relativismo e o anti-moralismo vigentes e impostos politica e culturalmente.

Pode parecer linguagem bonita e fácil, mas sou da opinião que a grande saída para a crise deste país será voltarmos a ser mais portugueses. Verdadeiros portugueses, motivados para o bem comum e com respeito pelo próximo, algo que no passado no fez ultrapassar desafios e vencer guerras. Temos de recuperar a sociedade portuguesa, a Nação Portuguesa, e rejeitar quem defende a sua adulteração. Temos de voltar às origens, ao que é nosso e que sabemos que deu bons resultados a gerações de portugueses. Temos de valorizar a Família (nas suas várias vertentes), mas rejeitar a sua adulteração. Temos de ser patriotas e intolerantes com a falta de patriotismo ou a traição. Temos de ser honestos, de dar o exemplo, e punir a fraude e a corrupção. Temos de ter consciência nacional, e não de classe, de tribo social ou de região.

Em suma, temos todos de puxar para o mesmo lado, no sentido que se sabe que é certo. Quando regressarmos a uma sociedade mais pacífica e respeitadora do próximo, sem dúvida teremos (entre outras coisas) níveis de saúde mental menos maus (e vergonhosos) do que temos hoje.

E nem acredito que acabei por escrever tudo isto à conta de um estudo sobre saúde mental da população.