segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Saab chinesa

Investidores chineses compram Saab por 100 milhões de euros
Foi celebrado um memorando de entendimento entre a Swedish Automobile e a Pang Da e a Youngman para a venda de 100% das acções da Saab por 100 milhões de euros.

Os chineses estão a comprar a Suécia. Depois da Volvo e da Carrier (segundo fabricante mundial de ar condicionado), agora Saab. Não sendo sueco, não deixo de ter pena de ver mais uma prestigiada marca sueca a ir parar a mãos chinesas. É uma ideia da Suécia que está a acabar: o de um pequeno país altamente industrializado, fabricante de alguns dos melhores produtos do mundo na sua especialidade, a competir em pé de igualdade com os gigantes.

A Saab era uma autêntica empresa-bandeira da Suécia. Nasceu como fábrica de aviões, para permitir o auto-abastecimento deste país neutro, nomeadamente em aeronaves militares. Ainda hoje, a empresa aeronáutica da Saab fabrica um dos melhores caças do mundo, o Saab Grippen. O primeiro avião do mundo equipado com um assento de ejecção era um Saab, e a empresa esteve na primeira linha do aparecimento dos aviões a jacto.

Após a Segunda Guerra Mundial, e seguindo o exemplo de numerosos países na época, a Suécia necessitava de um fabricante de automóveis populares e acessíveis (o que não eram os Volvo), para se motorizar. A Saab aproveitou o seu know-how para produzir um pequeno automóvel seguindo a filosofia do Volkswagen, o Saab 92001. O fabricante tornou-se conhecido e prestigiado em todo o mundo, autonomizou-se da divisão aeronáutica e deixou o mercado dos carros populares e tornando-se num nome sólido na gama alta.

Em 1989 foi adquirida pela General Motos, que acabaria por levá-la à decadência: fechou a sua divisão de produção de motores e caixas de velocidade, e os novos modelos passaram a ter como base modelos e componentes da Opel. O mercado não reagiu bem, já que os novos Saab eram demasiado caros para o que realmente eram: um Opel de luxo. Deu-se a falência em 2010 e venda a interesses holandeses que não conseguiram salvar a empresa.

O preço de 100 milhões de euros pagos pelos chineses é irrisório, já que os novos donos anunciam que a empresa necessitará de um investimento de mais de 600 milhões. Duvido que a Saab se mantenha na Suécia, já que o interesse chinês em empresas europeias prende-se sobretudo com a posse da tecnologia, transferindo a produção para a China. Já aquando da compra da Rover, a intenção anunciada era de manter produção na Europa, o que não se confirmou e hoje, em Longbridge, o que era a maior fábrica de automóveis da Europa é hoje uma enorme área terraplanada.

É a Europa em decadência, e a China em ascensão sobre os seus despojos.

A torre do terror

The Economist

Some hope that more money can be found from non-European creditor countries, such as China, by convincing them to invest in SPVs. Or perhaps the IMF could do more, particularly if China increases its contribution to the fund. But even if the Chinese were game, this raises a serious political question: does the euro zone want to be so obviously in hock to China just as it is fretting about Chinese firms buying up European ones?

sábado, 29 de outubro de 2011

Exposição sobre Duarte Pacheco, no Técnico

No átrio do pavilhão central do Instituto Superior Técnico, até ao dia 23 de Novembro, de Segunda-feira a Sábado das 10:00 às 20:00. A entrada é livre.

Uma pequena mas interessante exposição complementada pela exibição de filmes da época sobre a obra do jovem e dinâmico ministro das obras públicas que colocou o país no Século XX em termos de infraestruturas. Mesmo para quem conhece a História desse período, não deixa de impressionar o planeamento, a quantidade e o ritmo de construções públicas (1000 escolas em dez anos) dessa época, apesar dos problemas criados pela Segunda Guerra Mundial.

Dos filmes em exibição destaco o mais longo (81mn), chamado «15 anos de Obras Públicas», um filme de propaganda no estilo cansativo de António Lopes Ribeiro mas que é bastante interessante. A exposição inclui também documentos como artigos da imprensa da época (as inevitáveis polémicas e críticas ao que alguns consideravam megalomania) ou plantas de projectos. Alguns destes documentos estão expostos na mesa de trabalho usada por Duarte Pacheco e que hoje é propriedade da CML (a mesa em si é uma lição para muitos políticos actuais).


Ao ver a exposição, lembrei-me de um episódio da Segunda Guerra Mundial em que militares portugueses e britânicos acertavam planos para a defesa de Portugal em caso de invasão alemã. Os britânicos diziam que não tinham forças disponíveis para intervir em Portugal, em tempo e número úteis, e que o melhor que os portugueses tinham a fazer era sabotar e dinamitar tudo o que pudesse ser útil aos alemães: fábricas, portos, estaleiros, pontes, caminhos de ferro, barragens, centrais eléctricas, a refinaria de Cabo Ruivo e o que mais houvesse. Ou seja, não só não nos ajudavam como queriam que destruíssemos toda a infraestrutura que Portugal finalmente tinha, que era nova em folha ou se estava a construir. Perante isto, o oficial chefiando a delegação portuguesa respondeu dizendo que, assim sendo a ajuda do aliado britânico, e já que não seria possível resistir às tropas alemães, então que melhor seria simplesmente deixá-las entrar e conservar o país intacto.

A obra de Duarte Pacheco perdura e, passados 60, 70 ou mais anos, está aí a servir as actuais gerações. Construções bem pensadas, bem construídas, próprias para o nosso clima e feitas para durar sem grandes despesas de conservação. Das escolas e universidades às pontes e às barragens, do Hospital de Santa Maria ao Aeroporto de Lisboa, inaugurado em 1942 numa época em que nunca se supôs que serviria a aviões a jacto quanto mais aos milhões de passageiros que por ele agora passam.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

UE aprova plano espanhol de redes transeuropeias

Um notícia de ontem, da máxima importância para Portugal e que praticamente passou ao lado da actualidade por cá.

Irão ser construídos cinco corredores de via ferroviária, dois deles ligado Portugal, o do Atlântico (Aveiro/Leixões a Irun/França) e o Atlântico-Mediterraneo (Sines/Lisboa a Valência). Tal como era vontade portuguesa, ficam os portos nacionais ligados à fronteira francesa. Não se esperava que a UE aprovasse todos os corredores propostos por Espanha, mas foi o que acabou por acontecer.

Espanha fica com uma enorme rede de circulação de mercadorias ligando todo o território aos portos e estes entre si. Até agora só 4% do seu comércio era feito por mar, e a aposta é claramente de maritimizar a economia espanhola, i.e. virá-la para fora da UE. O mais importante destes corredores é o do Mediterrâneo, por onde passa parte significativa do seu comércio. No planeamento foram tidos em conta os interesses de empresas específicas, caso da SEAT, que conta reduzir os seus custos de transporte entre 150 a 200€ por automóvel exportado. Naturalmente que isto dará bom trabalho à indústria de construção civil, muito fragilizada pela crise imobiliária.

A questão que subsiste é se, mesmo com avultados financiamentos comunitários, Espanha irá ter dinheiro para financiar este projecto.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Jornalismo de sarjeta

Diário de Notícias, 18/10/2011:

Pensões vitalícias de ex-políticos poupadas a cortes

Os antigos titulares de cargos políticos vão escapar ao esforço adicional de austeridade que será exigido aos funcionários públicos e pensionistas que ganhem mais de mil euros.
Segundo o Orçamento do Estado para 2012, estas pensões serão apenas tributadas em sede de IRS.


É claro, que perante esta notícia, o país se indignou.

À tarde, no Público:

À entrada de uma reunião, à porta fechada, com as bancadas do PSD e do CDS-PP, no Parlamento, o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, afirmou que a exclusão das subvenções dos políticos do esforço exigido à Função Pública é “uma falsa questão, no sentido em que as subvenções são pagas em 12 prestações e, portanto, a questão dos 14 meses não se aplica”.

Na proposta de Orçamento do Estado (OE) ontem entregue na Assembleia da República, prevê-se que, no caso dos beneficiários de subvenções mensais vitalícias, ficam abrangidas “as prestações que excedam 12 mensalidades”. Acontece que, no caso dos ex-políticos, as subvenções são recebidas 12 vezes ao ano, uma por cada mês, não havendo lugar aos chamados 13º e 14º meses. Deste modo, estes rendimentos poderiam, de acordo com o que está inscrito no OE, não ser alvo de qualquer corte, algo que foi noticiado na edição de hoje do Diário de Notícias.

No entanto, Gaspar adiantou que o Governo está “determinado em encontrar uma solução para essa questão”. E essa solução poderá passar por uma “contribuição solidária de um montante equivalente ao que está previsto para as restantes prestações e, portanto, equivalente ao que está em causa na suspensão dos subsídios”.

Sem comentários.

«É preciso um novo paradigma»


Vaticano condena ataque a igreja durante protesto em Roma
(AFP)

O Vaticano condenou neste domingo os actos de violência em meio à manifestação dos "indignados" no sábado em Roma, como o ataque contra uma igreja onde um crucifixo e uma estátua da Virgem Maria foram danificados.

Ao qualificar os confrontos de "horríveis", o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, "condenou a violência e o facto de uma igreja ter sido profanada por alguns manifestantes", em declaração à AFP.

Trata-se da Igreja Santos Marcelino e Pedro, localizada perto da explanada da Basílica de São João de Latrão, onde ocorreram os incidentes mais violentos.

"A estátua da Virgem Maria que estava na entrada foi arrancada e lançada na rua, onde foi danificada. Na sacristia, a porta foi destruída. O grande crucifixo da entrada também ficou danificado", completou.

Centenas de manifestantes quebraram as vitrines dos bancos, incendiaram veículos e lançaram bombas contra as forças de ordem no sábado em meio ao protesto dos "indignados" que reuniu dezenas de milhares de pessoas em Roma.

Cerca de 70 pessoas ficaram feridas, três delas com gravidade, e 12 foram detidas.

domingo, 16 de outubro de 2011

Ser indignado é uma profissão com futuro

Ex-PCP, actualmente BCP/Galp/Iberdrola
Ex-UDP, actualmente Mota-Engil
Ex-PCTP/MRPP, actualmente...

sábado, 15 de outubro de 2011

Irlanda sai da recessão este ano

«A austeridade não resolve nada, só aprofunda a crise»; «as ajudas do FMI nunca tiraram nenhum país da crise»; «vamos pelo mesmo caminho da Grécia»; «os cortes nas despesas do Estado só provocam recessão»...

Quando a crise começou, a Irlanda fez grandes reformas, adoptou uma política de austeridade, cortou 15% no número de funcionários do Estado e aos que ficaram cortou-lhes grande parte do salário. As reformas que estão a ser feitas em Portugal vão nesta linha, com a diferença que se tem agravado a carga fiscal em vez de a diminuir porque, à diferença da Irlanda, em Portugal a presença do Estado na economia é gigantesca, e há dívidas para pagar. Ainda assim, Portugal está a seguir o exemplo da Irlanda, não da Grécia. E de lá, contra todos os prognósticos dos mesmos de sempre, as boas notícias começam a chegar:


Curiosamente, parece que nós agora também somos exemplo a seguir.


Isto é um bocadinho diferente da ideia geral que está a passar a imprensa portuguesa, não é? Ah, é verdade: nós não temos imprensa. Temos Comunicação Social.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Era o vinho, Meu Deus, era o vinho.

A hora mais dolorosa

Foram muitos anos de pão e circo, muitas promessas de prosperidade assente em aparências, muitas aparências assentes em crédito, muito crédito empenhado em betão e bólides efémeros, muitos direitos e pretextos para não fazer, não trabalhar e não deixar trabalhar. Importar era bom, fazer era mau. Muita ilusão, induzida e de criação própria. Um dia talvez a realidade caísse em cima mas, até lá, saboreavam-se as delícias do futebol e dos hipers, e das palavras reconfortantes dos vendedores de banha da cobra, dos aráutos do Estado Social, da Justiça Social, do passe social, da Taxa Social, do serviço público, tudo generosamente gratuito, ou não fosse o Estado a encarnação do Pai Natal. E se o craque do futebol ou o apresentador de concursos recomendam o empréstimo e o cartão de crédito, quem somos nós para duvidar?

Constante negação, por aversão à realidade, e no refúgio do politicamente correcto e da ignorância tida como legítima. «Economia? Isso é coisa que só interessa saber a ricos, a gente que usa fato e gravata». Não quiseram saber onde se estavam a meter porque pensaram que a solução para os problemas é sacudir a água do capote, queixar e criticar, que depois há de vir alguém que pague a conta e resolva.

E veio, mas tarde e a más horas, e somos nós todos que pagamos a conta. A doença evoluiu ao ponto de atingir proporções catastróficas e agora a cirurgia necessária é muito, muito dolorosa.

Tenho esperança que a situação um dia seja aceitável (a prosperidade já está guardada na memória e nos livros de História), mas que ninguém tenha dúvida que Portugal será um país pobre nos próximos 15-20 anos. É demasiada dívida para pagar, demasiada reconstrução do zero que o país terá de empreender, a começar pela mentalidade.

Para já, e para não cairmos no abismo, vamos vendendo os anéis.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Muito a propósito nestes dias de calor

Durante décadas a marca portuguesa mais conhecida em todo o mundo, e que actualmente é vendida em 125 países.
É claro que quando se tem sucesso, surgem logo as imitações. Também rosé, nome latino, garrafa ovalada, rótulo no mesmo estilo:

Este também dispensa apresentações:
É um lugar comum dizer-se que até há uns anos fazíamos bom vinho mas não o sabíamos vender. De facto havia quem o soubesse vender bem, e vendia; só não quis aprender com a Sogrape quem não quis (pelo que se vê atrás, na América não perderam tempo). O Mateus Rosé é um ícone de bom marketing, sendo que não precisou de copiar ninguém, apostou num nicho de mercado mal explorado (o vinho rosé, que alguns mercados não conheciam), dirigiu-se a uma clientela (essencialmente feminina) que abarca tanto o vinho de mesa como os consumidores de champagne, e vende-se orgulhosamente como um produto português, sem qualquer referência estrangeira.

Uma lição para muitas empresas portuguesas, as quais acham que exportar significa necessariamente adoptar uma falsa identidade estrangeira, uma marca com nome inglês ou italiano, rotular de «Made in Europe» tendo depois de competir com a multidão que, em qualquer parte do mundo, faz o mesmo. Portugal, apesar da má imagem actual pelas razões que sabemos, é visto internacionalmente como um país de bom gosto, de requinte no prazer de viver e de qualidade de vida, e essa é uma mais valia que ainda não é devidamente entendida e valorizada pelas empresas portuguesas, numa altura em que é importante continuar a aumentar as exportações.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011