segunda-feira, 27 de abril de 2009

Situação controlada

Esta história foi contada há anos atrás, na televisão.

Toda a gente se deve lembrar do imitador Fernando Pereira, e da sua capacidade verdadeiramente excepcional de imitar outras vozes, mesmo que muito diferentes, na perfeição. Segundo um médico norte-americano que o examinou, a probabilidade de surgirem pessoas assim é de 3 por cada milhão de habitantes.

Faz agora 35 anos, Fernando Pereira era um adolescente traquinas vivendo em Lisboa, no bairro de Campo de Ourique, e que já sabia do seu dom e o usava para, com os amigos, pregar partidas fazendo-se passar por outras pessoas.

Talvez o principal ponto de encontro em Campo de Ourique é a pastelaria A Tentadora (famosa, entre outras coisas, por fazer um dos bolos-rei mais conceituados de Lisboa) e que, nos dias seguintes ao 25 de Abril, estava apinhada de gente, nomeadamente de opositores à Ditadura, alguns talvez ainda saboreando a saída da prisão. No salão da pastelaria, ao ruído das conversas sobrepunha-se o som de um aparelho de rádio que fornecia a música ambiente.

A situação deu para uma partida.

Um dos amigos de Fernando Pereira morava num dos prédios próximos, e aí foi posto um pequeno rádio emissor artesanal que possuiam, sintonizado na frequência (na altura, em onda média) da estação que tocava na pastelaria.

A dada altura, a música foi interrompida, ouvindo-se na Tentadora:

«Senhores ouvintes: interrompemos a emissão para transmitir um comunicado ao país de Sua Excelência o Presidente do Conselho, Professor Marcello Caetano.»

Começou então Fernando Pereira a dizer, com solenidade, que o movimento revoltoso tinha sido dominado, que as Forças Armadas obedeciam às órdens do Governo e que a situação no país regressara à normalidade. E que todos os envolvidos na rebelião iriam ser punidos.

Em segundos, a Tentadora ficou vazia.

5 comentários:

Mad disse...

Eheheheheh!

Joao Quaresma disse...

Eu gostaria de ver o que aconteceria se hoje fosse feita uma partida do género...

Gi disse...

Muito engraçado!
JQ, que partida do género está a imaginar? O PM arguido no caso Freeport? O general Loureiro dos Santos a anunciar um golpe de Estado?
:-)

joshua disse...

Bolas!

Joao Quaresma disse...

Gi: o PM arguido no caso Freeport, palpita-me que vai ser mas pela justiça inglesa. Dê-lhes mais uns meses.

Quanto ao general Loureiro dos Santos, acho que ele que ele em golpista só de bancada, e nunca contra o PS.

Um golpe de Estado do general Moura Guedes, «para pôr o país na ordem e para partir a cara ao filho da mãe que anda a insinuar coisas sobre a minha irmãzinha».