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domingo, 21 de outubro de 2012

Ardeur de la vie, sentier de gloire

Dedicado ao Lycée Français Charles Lepierre, o liceu francês de Lisboa, que ontem celebrou sessenta anos de existência. Bon Anniversaire, mon vieux!

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A primeira medalha de ouro

Foi um dos momentos épicos do desporto português: a vitória de Carlos Lopes na maratona dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, que deu a primeira medalha de ouro olímpica a Portugal. É considerada por alguns como a melhor e mais disputada prova de maratona corrida até hoje, não só pelo gabarito dos atletas presentes (de que se destacava o então recordista mundial, o australiano Robert de Castella) mas também devido ao muito calor que se fez sentir e que levou a que boa parte dos concorrentes ficassem pelo caminho. Carlos Lopes, então com 37 anos, tinha treinado para essas condições habituando-se a correr com duas sweat-shirts vestidas.

Fui um dos muitos que ficaram a assistir à transmissão em directo, madrugada fora (a prova começou à uma da manhã, hora do continente). Uma transmissão televisiva bastante irritante, que deu sempre o protagonismo aos atletas anglosaxónicos mesmo que não fossem à frente. Mas emocionante até ao fim e especialmente quando, a poucos quilómetros da meta, ficou claro quem iria ganhar. Foi uma visão extraordinária a entrada de Carlos Lopes no Los Angeles Memorial Coliseum, com quase meio quilómetro de avanço e uma passada formidável, sob os aplausos de um público que se pôs de pé. Portugal demorou até conseguir ouro olímpico, mas quando o fez foi pela porta grande, na prova-raínha dos Jogos e com direito a novo record olímpico.

 

 

Outros videos mais longos com as transmissões britânica e mexicana.

sábado, 28 de julho de 2012

Quinque annis


O tempo passa depressa e o Regabophe já completou cinco anos de vida.

Continua como começou: um hobby e apenas isso. É de periodicidade ganária: quando me dá na gana de escrever sai uma nova edição. Em pelo menos um aspecto falhou redondamente: quando começou, era suposto não falar de política e o facto é que foi um dos temas mais frequentes ao longo destes cinco anos. Mas, com tudo o que se passou neste período e a situação a que o país chegou, dificilmente eu poderia evitar o tema. Mas doravante procurarei voltar às origens.

Obrigado a todos quantos têm lido e seguido este blogue.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Alemanha vs Itália

Escusado será dizer por quem eu vou torcer.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Ele não gosta de ricos

Em 1976, quando François Hollande se apresentou para cumprir o Serviço Militar, nos exames físicos foi-lhe detectada miopia, o que levou a que fosse dispensado. No entanto, o jovem Hollande preparava já uma carreira política e estava consciente que o facto de não ter cumprido o Serviço Militar poderia prejudicá-lo mais tarde. Logo após se inscrever na ENA (École Nationale d'Administration, o principal viveiro da classe dirigente francesa) pediu um novo exame físico que desta vez lhe foi favorável. Incorporado, foi colocado com a patente de aspirante no 71º Regimento de Engenharia de Oissel, perto de Rouen, sua terra-natal.

Mas para isso teve antes que receber formação como oficial, ingressando na Academia Militar de Coetquidan, onde teve como colegas de pelotão de instrução Michel Sapin (também aluno da ENA; ministro em vários governos socialistas), Jean-Pierre Jouyet (colega de François Hollande, Ségolène Royal e Dominique de Villepin na ENA, Curso Voltaire; ex-chefe de gabinete de Jacques Delors na Comissão Europeia; ex-director do Tesouro; secretário pessoal do primeiro-ministro socialista Lionel Jospin aquando da adesão ao Euro; ex-presidente do Clube de Paris; ex-administrador não-executivo do Barclays Bank France; ex-chefe da Inspecção Geral de Finanças; ex-Secretário de Estado dos Assuntos Europeus do governo François Fillon; actual presidente da Autoridade dos Mercados Financeiros; casado com Brigitte Taittinger, da família dona da famosa marca de champanhe Taittinger) e Henri de Castries (Conde de Castries; colega de François Hollande na ENA, do mesmo Curso Voltaire [nome do curso escolhido pelos alunos]; ex-membro da direcção do Tesouro; inicia a carreira na seguradora AXA em 1989 e é CEO desde 2000; é director da Comissão de Coordenação do Clube de Bilderberg; próximo de Nicolas Sarkozy e de François Hollande; descendente do Marquês de Sade).

 

Como se vê, tudo gente de meios modestos e com um percurso de vida perfeitamente normal.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Primeira travessia aérea do Atlântico Sul


Faz hoje 90 anos. Dois oficiais da Marinha de Guerra, os comandantes Jorge de Sacadura Freire Cabral e Carlos Viegas Gago Coutinho iniciaram aquela que seria a primeira travessia aérea do Atlântico Sul. Depois de todas as terras terem sido descobertas, de todos os mares terem sido navegados, chegara a vez de explorar os ares por onde nenhum ser humano tinha estado, desafiando rotas cada vez mais longas e arriscadas. A primeira travessia sobre do Canal da Mancha, pelo francês Louis Blériot (1909); do Mediterrâneo, por Roland Garros (igualmente francês, em 1913); do Atlântico Norte (da Terra Nova à Irlanda) pelos norte-americanos Alcock e Brown, em hidroaviões da Marinha dos EUA (1919).

Mas os portugueses também fazem das suas. Em Outubro de 1920, dois aviadores da Aeronáutica Militar (do Exército), José Manuel Sarmento de Beires e António Brito Pais tentam a travessia de Lisboa à Madeira num bombardeiro Breguet 14. É uma verdadeira aventura: um vôo directo de 1500 Kms sobre o mar, sem rádio nem navios de apoio, num avião com trem de aterragem de rodas, e portanto incapaz de amarar em caso de emergência. Atingida a Madeira, a ilha está envolta em nevoeiro cerrado, e os aviadores são incapazes de se orientar e aterrar. Esgotado o combustível, despenham-se no mar. Mas como a sorte protege os audazes, acabam por ser salvos, milagrosamente, por um cargueiro inglês que por eles passa, por mero acaso.

No ano seguinte, aquando da compra por parte da Marinha de dois hidro-aviões torpedeiros em Inglaterra, Sacadura Cabral (aviador) e Gago Coutinho (hidrógrafo) propõem a encomenda de um terceiro, modificado sob especificação (asas de maior envergadura, sem armamento e com muito maior capacidade de combustível) para tentar a travessia do Atlântico Sul no ano seguinte, por ocasião do centenário da independência do Brasil. A ideia é aceite, e assim a Marinha recebe o Fairey IIID F-400, que é baptizado de «Lusitânia».

Mas a viagem Lisboa-Rio de Janeiro é bastante mais ambiciosa que todos os anteriores vôos sobre o mar. Totaliza 8000 quilómetros, em grande etapas voadas em larga medida de noite, sem outra referência que não as estrelas, e por diferentes regimes de vento. Para possibilitar o vôo sobre grandes extensões de oceano de noite, Gago Coutinho adapta o sextante para o uso em navegação aérea, dotando-o de um horizonte artificial.

Depois de efectuada a primeira travessia bem sucedida até à Madeira, em 1921, a grande viagem tem início a 30 de Março de 1922, quando às 16h30 o «Lusitânia» sai da base de hidroaviões na Doca do Bom Sucesso, em Belém e levanta vôo.
Ao longo do trajecto entre Lisboa, as Canárias, Cabo Verde, Fernando de Noronha e a costa brasileira, a Marinha destacou navios de forma a prestar assistência à expedição. A viagem seria atribulada ao aproximar-se da costa brasileira, e seria muito atrasada quando o «Lusitânia» é perdido na amaragem junto aos penedos S. Pedro e S. Paulo, tendo os dois aviadores sido salvos pelo cruzador «NRP República». De Lisboa, é enviado um segundo avião, o «Pátria», de forma a retomar a viagem desde o ponto em que fora interrompida, mas o azar de novo acontece e também este avião é perdido numa amaragem de emergência.

Mas não era admissível desistir. De Lisboa larga o cruzador «NRP Carvalho Araújo» com o terceiro Fairey IIID a bordo, mais tarde baptizado «Santa Cruz». A 5 de Junho, Sacadura Cabral e Gago Coutinho levantam vôo de Fernando de Noronha em direcção ao Recife, a partir de onde bastará voar ao longo da costa até chegar ao Rio. Tiveram, como se sabe, uma recepção apoteótica, com as mais altas honras. Um dos que fez questão de os esperar na Baía de Guanabara foi Santos Dumont.

Outros vôos memoráveis foram feitos por Portugueses. Em Abril de 1924, Sarmento de Beires e Brito Pais, desta vez com o mecânico Manuel Gouveia, partem com destino a Macau a bordo do Breguet XVI «Pátria», comprado em segunda mão por subscrição pública, e que foi destruído numa aterragem forçada na Índia. Como a subscrição pública tinha sido generosa, o «Pátria» foi substituído pelo «Pátria II», comprado localmente. Mas tal como na travessia à Madeira, o mau tempo estragaria os planos aos aviadores portugueses: à aproximação a Macau, um temporal impediu a aterragem e foi decidido tentarem Cantão. No percurso, o motor sofreu uma avaria que obrigou a uma aterragem de emergência numa aldeia chinesa, acabando aí a aventura.

Em Março de 1925, a Aeronáutica Militar, de novo num bombardeiro Breguet XIV adaptado com depósitos suplementares, efectuou a ligação Lisboa-Bolama (Guiné), com escalas ao longo da costa africana. Chegados à Guiné, após uma viagem de 4000 Kms, Joaquim Sérgio da Silva (piloto), José Pedro Pinheiro Correia (navegador) e Manuel António (mecânico) são recebidos pelo governador da província com a notícia de que está em curso uma revolta indígena e de que o avião é necessário para apoiar as tropas. Não tendo - obviamente - trazido bombas consigo, o Breguet XIV efectua um bombardeamento com bombas aéreas improvisadas: granadas de mão às quais se soldaram aletas feitas de metal das latas de conserva, para poderem ter alguma precisão e acertar no alvo.

O triunfo na travessia do Atlântico não refreou a ambição de Sacadura Cabral. O seu novo projecto batia tudo o que tinha sido proposto até então: a volta ao mundo em avião, em sentido inverso à da viagem de Fernão de Magalhães. Isto numa altura em que ninguém tinha ainda atravessado o Oceano Pacífico (o que só viria a acontecer em 1928). Surpreendentemente, obteve apoio do Governo, e foram encomendados na Holanda cinco aviões Fokker, desta vez monoplanos e construídos de propósito para a viagem. Numa das viagens de entrega dos aviões, em 15 de Novembro de 1924, Sacadura Cabral perdeu-se no nevoeiro cerrado e desapareceu no Mar do Norte, ao largo da Bélgica.

Gago Coutinho, que tinha 53 anos aquando da travessia do Atlântico, e prosseguiu a sua brilhante carreira na Armada, tendo atingido o posto de almirante. Faleceu em 1959.
Lembrar a vôo Lisboa-Rio de Janeiro de 1922, primeira travessia do Oceano Atlântico com navegação astronómica, e primeira do Atlântico Sul, não é apenas homenagear os dois protagonistas da aventura e a organização que esteve por trás: é lembrar algo que foi umas das raras coisas boas que aconteceram nesse período negro da História de Portugal que foi a Primeira República, e um acontecimento que não só foi positivo para a auto-estima dos portugueses como foi um motivo de orgulho e prestígio internacional. E é homenagear os aviadores portugueses dessa época - hoje tão desconhecidos e injustamente afastados do quadro de referências históricas - que, num misto de ciência, coragem e loucura, se aventuravam mar adentro confiando na tecnologia rudimentar da época (que para eles era a mais sofisticada) em aviões biplanos lentos, de estrutura de madeira coberta de tela, de um só motor, sempre de cabeça de fora do cockpit durante muitas horas, por vezes sem rádio nem ajuda do exterior, e para quem conceitos como o radar ou o GPS seriam impossíveis de imaginar. Era outra gente. Era outra maneira de estar na vida. Oxalá nos inspirem no momento que atravessamos.

Imagens: via Restos de Colecção.

PS: A partir de hoje, e até final de Abril, estará patente uma exposição alusiva no Museu de Marinha, em Belém.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Obamembarrassment

Para quem está habituado a ler discursos escritos por outros, sempre com teleponto, falar de improviso deve mesmo ser uma grande chatice. Mesmo quando se é um messias.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Diga não à reclusão!

Após o golpe de 28 de Maio de 1926, os generais prevaleciam nos ministérios do Terreiro do Paço. Cupertino de Miranda tinha já nessa altura, uma grande fama como financeiro: possuía uma casa bancária no Porto e escrevia artigos sobre finanças no «Primeiro de Janeiro».

O general Ciril de Cordes mandou um emissário a convidá-lo para Ministro das Finanças. Cupertino de Miranda recusou o convite, mas indicou um homem «todo vosso» e doutor em Coimbra: Salazar.

Salazar aceitou o cargo, mas passados três dias foi-se embora, pois não aceitaram as suas condições.

Os generais diziam, na altura, que Cupertino de Miranda não era «dos deles». Foi sempre um «contraditor» de Salazar, embora reconheça que o ditador sempre teve uma grande consideração por ele.

10 DIAS NA CASA DE RECLUSÃO

CUPERTINO DE MIRANDA passou 10 dias na Casa de Reclusão! O motivo foi a Revolta da Batalha. Camilo Cortesão ia com frequência à casa que Cupertino de Miranda possuía na Maia, passando lá largo tempo a preparar a revolta. Um dia, a Pide chamou-o, dizendo-lhe que ia preso 10 dias para a Reclusão. Cupertino de Miranda fez-lhes ver os enormes prejuízos que tal facto acarretava. Quem iria dirigir a Casa Bancária?

O Director da Pide logo arranjou solução: Cupertino de Miranda ia para o Banco, durante o dia, acompanhado pelo agente Faro e, à noite, ia dormir à cadeia.

O agente Faro era mesmo um homem com faro! Prometeu fuga ao banqueiro se ele lhe arranjasse emprego no banco!

Cupertino de Miranda contraiu uma grande constipação na Reclusão: a casa era húmida e a água escorria pelas paredes...

Num desses dias de doença, disse ao Faro:

Hoje não vou para a Reclusão!
Se bem o disse, melhor o fez: deitou-se na cama, junto da mulher.

Às três horas da manhã, bateram, com estrondo, na porta da casa da Boavista. Era o director da Pide acompanhado por outros agentes.

Então, não foi para a reclusão? – perguntou.
Não vou, nem irei! – respondeu Cupertino de Miranda.
Então fica em liberdade! – respondeu o director.

Assim escapou Cupertino de Miranda a mais uns dias de prisão...

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

sábado, 28 de maio de 2011

Inspiração: é do que o país mais precisa

Troquem-se estas bandeiras pela nossa Azul e Branca, e o discurso serve-nos que nem uma luva!

terça-feira, 3 de maio de 2011

I love the smell of napalm in the morning

Teve o que merecia? Não. Merecia ter sofrido mais. Os inocentes que estavam nas Twin Towers e de repente levaram com um Airbus em cima e foram inundados com toneladas de gasolina a arder e tiveram uma morte atroz, esses não escolheram o destino que tiveram.

Devia ter ido a tribunal? Devia. Um tribunal internacional ou tão somente um dos EUA, onde o esperaria a pena de morte ou, melhor ainda, a prisão perpétua às mãos dos "infieis" (o que pior que se pode fazer a um candidato a mártir). Merecia ter sido humilhado como foi Saddam Hussein, destruindo qualquer mito. Mas em tribunal poderia ter revelado coisas incómodas para Washington e outros países, nomeadamente o Paquistão.

É claro que há coisas mal explicadas nesta história, e o timing (em pré-campanha presidencial nos EUA) deixa interrogações. Mas, para o que interessa ao Mundo, a justiça foi feita e o exemplo está dado.

Canalhas destes costumam safar-se e morrer na cama (como Yasser Arafat) mas desde o final da Guerra Fria que as coisas tendem a melhorar. O Sheik Yassin (líder do Hamas) levou um míssil anti-tanque em cima; Saddam Hussein foi preso e enforcado; Nino Vieira abatido como um cão; agora Osama Bin Laden. Kadaffi deve estar por dias para chegar a sua vez de saber o bom que é estar junto a uma bomba a explodir.

Quem semeia ventos, colhe tempestades.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Coisas que passaram despercebidas em 2010 - 1


"É dia 24/11/2010, são 11 horas. Começa um leilão de obras de arte em Londres. Entre elas encontra-se um elmo de D. Sebastião. A grave crise mundial fez muitos venderem objectos herdados que nem sabiam bem o que eram. Os leiloeiros estão tão atarefados, que nem tempo têm de estudar devidamente o que lhes passa pelas mãos. Assim surgiu, no mercado internacional, este elmo rapinado pelo Duque de Alba em Lisboa, em 1580. Espero que passe despercebido! Em tempos já consegui adquirir e trazer de volta a Portugal uma boa parte de uma das armaduras de D. Sebastião. Tinha sido classificada como sendo do Duque Emanuel Filiberto de Sabóia (casado com a Infanta D. Beatriz de Portugal), o que aliás está correcto. Não tinham, porém, visto o quadro no Museu das Janelas Verdes que mostra D. Sebastião utilizando esta armadura que lhe foi oferecida pelo Duque de Sabóia, seu primo, que, com mais 26 anos de idade, já não cabia nela e ofereceu-a a D. Sebastião.

Mantive-me calado! Não disse a ninguém que o elmo de D. Sebastião iria a leilão em Londres. Também dizer para quê? As nossas “Entidades Oficiais” não iriam mexer um dedo para o recuperar! Apenas acabaria por alertar os museus estrangeiros e os leiloeiros. Estes sabem muito bem que uma peça de armadura atribuível a um Duque importante vale, pelo menos, 10 vezes mais do que a mesma sem essa atribuição. Quando a peça é indiscutivelmente atribuída a um monarca, o valor é 20 vezes superior. Mas quando se trata de D. Sebastião, a peça tem simplesmente de regressar a Portugal. Haja manhã de nevoeiro ou não. Estando o Desejado nele ou não!

Se alguém descobrir, vai ser uma desgraça financeira para mim. Encontro-me praticamente sem vintém. Mas, o elmo tem de voltar! A minha conta bancária está vazia. De pouco me ajudaria vender o meu carro. Tem 25 anos e ainda me presta bons serviços. De qualquer maneira, o elmo vai custar o equivalente a muitos carros. Não sei o que fazer. Com lógica não chego lá. Tenho de me deixar guiar pelo subconsciente, e este diz-me: “O ELMO DE D. SEBASTIÃO TEM DE REGRESSAR A PORTUGAL!”Não fui a Londres, uma vez que a minha presença neste leilão faria algumas pessoas pensarem e eventualmente acordarem.Pedi para a leiloeira me telefonar.

Em Londres já estão a vender as primeiras peças no leilão. Tenho o catálogo sobre os joelhos, sentado ao lado do telefone. Da nossa televisão só oiço os berros de mais uma greve geral, totalmente inútil, onde políticos e sindicalistas fazem o seu circo perante as câmaras dos média, vermes do sistema. Se houvesse entre eles alguém que realmente estivesse empenhado no bem de Portugal, essa pessoa estaria a esta hora em Londres a fim de trazer o elmo de D. Sebastião de volta. É preciso defender a identidade lusa e esta mantém-se quando se ama Portugal e a sua história, e não com malabarismos vocais e movimentos de massas arrancadas do trabalho.

Se eu tiver a sorte de, nem o Musée de l’Armée de Paris, nem a Armeria Real de Turim, nem o museu de Filadélfia – visto todos eles possuírem alguns elementos desta armadura, desejando certamente completá-la –, se darem conta de que este elmo lhes faz muita falta, ainda assim é necessário ultrapassar os comerciantes, sempre à procura de lucro fácil. Aí, tenho a “sorte” do elmo ter um pequeno furo (menor do que uma moeda de 1 cêntimo), o suficiente para muitos não o quererem. Este buraquinho não altera em nada a importância histórica da peça, mas apenas o seu momentâneo valor comercial, enquanto não se tiverem dado conta de que se trata de um elmo de um duque, oferecido a um rei. AO NOSSO REI!

Tenho os nervos à flor da pele. O telefone vai tocar dentro de instantes. O que é que vou ter que dar em troca para poder pagar esta factura choruda? Não sei! Depois se verá. O ELMO TEM DE VOLTAR !Não vai haver férias nem presentes de Natal, e mesmo estes cortes não vão ser suficientes. Mas O ELMO TEM DE VOLTAR!

O telefone toca. O elmo vai à praça! Dou uma ordem: “COMPRE!”.
O martelo do leiloeiro bateu!
O ELMO DE D. SEBASTIÃO VAI VOLTAR A PORTUGAL."

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Lições de Inglaterra

Antes de ontem, uma das marcas americanas mais prestigiadas, a Pontiac, acabou oficialmente. A propósito disso, lembrei-me do caso da indústria automóvel britânica, que hoje está reduzida a marcas de nicho, como a Land Rover, a Jaguar e a Aston Martin. Lembram-se da British Leyland? Foi o 4º maior construtor mundial, resultante da fusão da maioria das marcas britânicas, e sequente nacionalização. Eis a receita para o desastre. Nota: Red Robbo era o dirigente do sindicato dos trabalhadores da indústria automóvel, normalmente apontado como o coveiro da British Leyland.



quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Acima de tudo

Deve haver poucas profissões melhores do que ser piloto de U-2, o famoso avião espião americano, que voa no limite da atmosfera desde os anos 60.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Tudo de Bom

Um Feliz Natal e um Excelente 2010 para todos os que seguem este blogue.

E, como dizia um grande artista entretanto desaparecido, façam o favor de serem felizes!

João Quaresma

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Spam dá multa

Los Angeles – Sanford Wallace, auto-proclamado «rei do spam», foi condenado por um juiz norte-americano a pagar uma multa de 482 milhões de euros à rede social Facebook, por entrar em contas que eram depois utilizadas para a distribuição massiva de mensagens de phishing entre os membros da rede.

Todos os cêntimos que ele tiver de pagar serão merecidos. Porque o spam incomoda e porque ele se auto-proclamou de rei.

Aguardo que o exemplo seja seguido por cá e seja alargado à publicidade não solicitada que nos é colocada na caixa de correio e no vidro do carro (e depois chove e ficam colados). São os dentistas, são os restaurantes indianos e nepaleses, são as janelas e caixilhos, para já não falar no «Compro carros usados» a torto e a direito. Multa neles!

É bom que este tal de "rei do spam" tenha tido jeito para o negóio e posto algum de parte, porque para juntar 482 milhões de euros, é preciso realmente muito spam.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Depois de Charles Bronson...

Agora, o raptor suspeito dos investigadores contratados pelos McCann não é um mas sim uma, e é parecida com Victoria Beckham. O fundo Find Madeleine bem que podia receber uns milhões do David...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

As árvores morrem de pé

Depois de, recentemente, a companhia aérea chinesa Spring Airlines ter anunciado estar a considerar introduzir em serviço aviões em que os passageiros viajam de pé, era de esperar que Ryanair & Cª seguissem o exemplo. Recordo que em Junho passado, após divulgar as primeiras perdas nos ganhos anuais em 20 anos, a Ryanair anunciou que está em negociações com a Boeing para projectar um avião (B737) com apenas uma casa de banho em vez das três actuais. Isso daria espaço para mais seis assentos.

A nova ideia é reduzir o comprimento dos assentos e também a distância entre eles, com os viajantes instalados com cinto de segurança atado à cintura, de modo a que o número de passageiros aumente até 40%. A Spring Airlines, que deverá tomar uma decisão até ao fim do ano, calcula uma redução de custos de 20%. Parte-se do princípio que não vão ter o descaramento de não reduzir a tarifa, nem de cortar nas casas de banho (ou arriscam-se a ter um problema muito sério a bordo, pelo menos com os passageiros do sexo masculino).

Modelo de transporte de passageiros de pé, concebido pela Airbus.

Muito francamente, não me imagino a viajar desta maneira, e penso que serão poucos os que aceitarão. Até porque há questões de segurança que devem ser levadas em conta, como por exemplo, que posição adoptar numa aterragem de emergência.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

A língua portuguesa é muito traiçoeira...

...E na boca de uma portuguesa ainda mais! Sobretudo quando se muda para o Brasil.

«Transa Atlântica» é o primeiro romance da blogger Mónica Marques, do Sushi Leblon (ali na coluna da direita, lá para baixo; já devem ter reparado). Como ela diz, o livro é filho do blogue.

Mónica mudou-se para o Rio de Janeiro em 2002, e "acariocou-se" (expressão dela), tendo estado a partilhar a experiência e as reflexões através do blogue. A personagem do livro, Marta, faz o mesmo trajecto e também a ela o Rio de Janeiro muda a perspectiva de vida. Aliás, este é um livro que, entre outras coisas, confronta a maneira de ser portuguesa com a brasileira.

Marta é o super-ego que Mónica, segundo a própria, não quer mas que gostaria de ser. Uma portuguesa à solta.

«Transa Atlântica é um livro onde se vai. É difícil sermos tão levados como ele nos leva. Não é só estarmos lá, no Rio, sem sairmos daqui. É sairmos daqui e não estarmos em lado nenhum senão para onde nos levam os enlevos e os enfados da autora. Sempre depressa. Sempre com graça. Sempre com uma verdade desconcertante.»
Miguel Esteves Cardoso, na apresentação do livro.

Entre bloggers: sinceros parabéns, Mónica!

Podcast da entrevista no «Pessoal e Transmissível», da TSF.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Situação controlada

Esta história foi contada há anos atrás, na televisão.

Toda a gente se deve lembrar do imitador Fernando Pereira, e da sua capacidade verdadeiramente excepcional de imitar outras vozes, mesmo que muito diferentes, na perfeição. Segundo um médico norte-americano que o examinou, a probabilidade de surgirem pessoas assim é de 3 por cada milhão de habitantes.

Faz agora 35 anos, Fernando Pereira era um adolescente traquinas vivendo em Lisboa, no bairro de Campo de Ourique, e que já sabia do seu dom e o usava para, com os amigos, pregar partidas fazendo-se passar por outras pessoas.

Talvez o principal ponto de encontro em Campo de Ourique é a pastelaria A Tentadora (famosa, entre outras coisas, por fazer um dos bolos-rei mais conceituados de Lisboa) e que, nos dias seguintes ao 25 de Abril, estava apinhada de gente, nomeadamente de opositores à Ditadura, alguns talvez ainda saboreando a saída da prisão. No salão da pastelaria, ao ruído das conversas sobrepunha-se o som de um aparelho de rádio que fornecia a música ambiente.

A situação deu para uma partida.

Um dos amigos de Fernando Pereira morava num dos prédios próximos, e aí foi posto um pequeno rádio emissor artesanal que possuiam, sintonizado na frequência (na altura, em onda média) da estação que tocava na pastelaria.

A dada altura, a música foi interrompida, ouvindo-se na Tentadora:

«Senhores ouvintes: interrompemos a emissão para transmitir um comunicado ao país de Sua Excelência o Presidente do Conselho, Professor Marcello Caetano.»

Começou então Fernando Pereira a dizer, com solenidade, que o movimento revoltoso tinha sido dominado, que as Forças Armadas obedeciam às órdens do Governo e que a situação no país regressara à normalidade. E que todos os envolvidos na rebelião iriam ser punidos.

Em segundos, a Tentadora ficou vazia.