O que fez ontem foi o seu suicídio político. Sendo certo que a inteligência política nunca foi o forte de Cavaco Silva (apoiar Mário Soares para Belém em 1991 foi uma das maiores burrices da História da partidocracia portuguesa), devia pelo menos ter instinto de sobrevivência suficiente para preservar o mito que lhe valeu a carreira política que teve até agora.
E digo até agora porque Cavaco cometeu o seu último erro, e deitou pela janela as hipóteses que tinha de garantir um segundo mandato em Belém.
Com a habitual dose de basófia para esconder a cobardia política, Cavaco traíu a confiança do seu eleitorado, e as expectativas de todos aqueles que, não tendo votado nele, abominam a ideia de ser aprovada a lei do casamento homossexual. E esses vão da Extrema-esquerda à Extrema-direita.
Há males que vêm por bem; há muita gente que dizia que o País precisava de bater mesmo no fundo para se iniciar o processo de regeneração. Mas, mesmo que esse efeito se dê, não precisava de ser sujeito a esta bandalheira, a esta humilhação. Não precisava de bater tão fundo.
Quanto à lei em si, é tudo menos certo que tenha vindo para ficar. A habitual tolerância do povo português foi uma vez mais abusada, e o isto vai ter um preço nas próximas eleições.
Isto porque, independentemente da ideologia de cada um, um homem "casado" com um homem ou uma mulher "casada" com uma mulher não são casamentos: são homossexuais a brincarem aos casamentos.
A sociedade e a definição de família não se mudam por decreto.
3 comentários:
O Funes, el memorioso trazia ontem uma antevisão muito interessante do que iria fazer o PR, mas apesar do seu pensamento lógico enganou-se.
Independentemente da opinião que possamos ter sobre o casamento homossexual, Cavaco Silva fez disparate: se queria vetar, vetasse, se queria promulgar, não tinha de dar uma explicação pateta.
Como candidato da direita é uma tristeza.
Globalmente até concordo com este artigo.
A aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo é uma aberração, que talvez não venha para ficar. Esta gentinha pensa que por poderem ou serem mesmo «casados» se vão dar ao respeito. Enganam-se, vão continuar a ser gozados no trabalho, na rua ou no prédio onde moram. É que o povo português pode ser muito do «deixa andar», mas é conservador e metediço.
Só não concordo com esta parte que passo a citar: «Cavaco cometeu o seu último erro, e deitou pela janela as hipóteses que tinha de garantir um segundo mandato em Belém».
Não me parece. Passo a explicar porquê.
O Cavaco já cometeu alguns erros, como o apoio ao Marocas (saiu incólume), o dizer que a esquerda moderna estava no PSD (com poucos estragos) e com a história dos tábus (onde se tramou).
Mas a direita entre ele e o pirata de Argel, opta por ele, mesmo que tenha feito muitas asneiras.
Agora que é um candidato de direita da treta, é de certeza.
Nos últimos tempos, o PSD tem sido um campeonato de desastres: Cavaco, Ferreira Leite, Passos Coelho. A azelhice de Cavaco é inacreditável.
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