quarta-feira, 22 de junho de 2011

XIX Governo

Alguns apontamentos:

1. Confesso que estava céptico quanto ao novo governo, sobretudo a partir do momento em que reapareceram em cena algumas figuras de má memória, como Fernando Nogueira. Temi que viesse aí mais do mesmo. Mas não, pelo contrário: as escolhas do PSD parecem enterrar definitivamente o cavaquismo. Pedro Passos Coelho está a surpreender-me pela positiva e, pelo que vi até agora, está a parecer-se com o primeiro ministro de que Portugal precisa; oxalá não venha a desiludir. Além de quadros do seu próprio partido, foi bastante bem sucedido nos independentes que incluiu na sua equipa. O CDS aposta em gente enérgica e determinada, que tem demonstrado conhecimentos, e comprovadamente com ganas para enfrentar problemas. Penso que estamos perante o primeiro governo de Direita em Portugal nesta III República.

2. Em Portugal, as instituições prezam muito quem «é da casa», quem «conhece os cantos à casa», com reconhecidos cabelos brancos (muitas vezes de incompetência) o que na maioria das vezes significa que esse alguém não vai mudar nada nessa «casa», nem contrariar os interesses instalados, por muito que a «casa» em questão precise de uma grande limpeza. Por esta lógica, o melhor ministro da saúde que se pode desejar será um médico, o melhor da educação será um professor, e por aí adiante; e depois é o que se sabe. Pois bem, neste governo nenhum ministro é «da casa», o que é precisamente aquilo de que o país precisava há muito: pedradas no charco. Melhor ainda (e pior ainda para os poderes instalados), trata-se de sangue novo, gente (em princípio) sem telhados de vidro. Vão ter trabalho muito difícil pela frente, mas também vão ser difíceis de contrariar.

3. Serão poucos os ministros que não terão de travar guerras totais, de tão diametralmente opostos que são aos poderes instalados. Nuno Crato contra todo o M. da Educação mais os subsídio-dependentes da "Kultura", Paulo Macedo para por ordem no fartar vilanagem do SNS, Álvaro Santos Pereira com a questão das PPP, Paula Teixeira da Cruz contra o establishment da Justiça, e Paulo Portas para colocar em prática uma política externa à medida das necessidades actuais do país, que inclua a aproximação a outros países e espaços que não apenas os habituais, e com ganhos concretos. Temos de ter o bom senso de reconhecer que o nosso ciclo europeu acabou e adaptar-nos às novas circunstâncias, sem mais perdas de tempo do que o estrictamente necessário enquanto membros da UE, enquanto esta durar.

4. É também a chegada da minha geração a pastas ministeriais, e com elementos vindos do sector político com soluções válidas para o país. Há 20 anos, éramos a «geração rasca», mas o facto é que são alguns de nós quem vai atacar de frente a situação calamitosa deixada por tanta "modernização" feita pelos "revolucionários" vindos das duas gerações precedentes.

5. Pedro Passos Coelho cresceu em Angola. Paula Teixeira da Cruz e Assunção Cristas nasceram em Luanda. Angola é hoje um dos principais parceiros comerciais de Portugal, além de destino e origem de investimento. Dezenas de milhares de angolanos escolheram viver em Portugal, e 400 mil portugueses mudaram-se para Angola nos últimos anos. Não são os cínicos "ventos da História", que pretenderam colocar "colonizados" e "colonialistas" para sempre em lados diferentes de um muro artificial, ideológico e racista, que foi imposto por interesses de terceiros. Não: são as voltas que o Império dá!

6. As atenções estão viradas para a economia e finanças, e para as reformas do Estado. Mas uma das áreas em que o novo governo tem desafios mais importantes pela frente é precisamente aquela a que o país está mais desatento e que tem sido mais preterida na atribuição de recursos: a Defesa. Portugal está hoje na circunstância de estar inserido num bloco europeu politica e economicamente problemático; e num bloco militar em acelerada decadência, com os EUA enfraquecidos e relutantes em auxiliar a Europa; e aliados europeus (a começar pelo nosso aliado mais antigo) empobrecidos e moralmente fracos, que se desarmaram e não são minimamente capazes de responder às suas próprias necessidades, quanto mais fornecer meios para nos auxiliar em caso de necessidade. Há também sinais de uma possível desintegração de Espanha e, por outro lado, uma agressividade internacional crescente, em parte produto da crise económica. Para grande azar nosso, esta circunstância estratégica (a mais grave desde o fim da Guerra do Ultramar) dá-se no pior momento económico em mais de 100 anos, o que nos dificulta a renovação de meios e impede de adquirirmos capacidades que compensem a ausência de aliados credíveis. Por isso, e ao contrário do que se possa pensar, a tarefa que espera o Dr. José Pedro Aguiar Branco é tudo menos menor e simples: é um trabalho meticuloso e realista de decidir onde gastar o limitadíssimo orçamento de que disporá. A prioridade deve ser dada à Marinha, onde a necessidade é mais urgente e que actua no espaço que nos é mais determinante; e onde existe a vantagem de podermos recorrer à produção nacional, além de impulsionar exportações. Mas não é só a Marinha. E - pela vossa riquíssima saúde! - não cortem ainda mais nos efectivos.

7. O que se anuncia com este novo governo é um período de corrida pela salvação nacional, de correcção de problemas criados ao longo de décadas, e de normalização da realidade nacional. E insisto bastante neste aspecto: Portugal precisa de voltar a ser um país normal. Chega de sermos tubo de ensaio de experiências ideológicas, de destruirmos o que se tem e se sabe que funciona em nome de experimentarmos receitas que se calculam erradas, por vezes desastrosas. Chega de projectos inviáveis e dos argumentos fantasiosos que são usados para os justificar. Chega de pretensas causas, demagógicas e populistas, que tantas vezes escondem intenções totalitárias. Temos passado por um processo de bananização, de abandalhamento das instituições e dos indíviduos. Isto tem que ser revertido.

Portugal tem de voltar a ser um país normal!

7. Tenha-se votado ou não, sendo do agrado ou não, o facto é que este governo formado pelo PSD e o CDS será o Governo Português durante os próximos anos. Pedro Passos Coelho é o nosso Primeiro-Ministro. Se quisermos que o país se recupere devemos apoiar este governo. Se discordarmos do rumo seguido, devemos apontar soluções alternativas e ser construtivos. Mas este não é o momento nem nos podemos dar ao luxo de fazermos oposição por mero egoísmo ou capricho. Não podemos continuar como até aqui. Temos de recuperar mais do que as finanças e a economia: temos de recuperar os nossos valores, a nossa auto-estima e o nosso orgulho perante os outros povos.

Para que um dia, se Deus quiser, possamos dizer: «Batemos no fundo, sim. Mas recuperámos e agora estamos de pé!»

O país tem de se colocar no rumo certo e de dar o litro. Temos de estar unidos e dar o tudo por tudo.

Boa Sorte Dr. Pedro Passos Coelho e restante Governo!

4 comentários:

Gi disse...

Talvez seja ingenuidade, mas tenho alguma esperança neste governo, embora me pareça dificílimo resolver os problemas de Portugal. Os cortes não podem ser a eito, embora tenham que ser feitos, e antes de melhorar a situação ainda vai, pelo menos superficialmente, ter de piorar.
Boa sorte para todos nós!

Paulo Lisboa disse...

Devo dizer quer fiquei agradavelmente surpreendido com a composição do governo. Também estava à espera que aparecesse algum «peso pesado do cavaquismo» estilo Eduardo Catrago e afins, que só ia atrapalhar em vez de facilitar as coisas.

Houve o bom senso de tornar este governo, um governo leve, de poucos Ministros. Chega de palhaçadas de termos o Ministério da Igualdade, o Ministro da Presidência e outros disparates afins que caracterizavam os outros governos.

Ouvi algumas opiniões dizer que este governo tinha o contra de ser composto por pessoas que não tinham experiência política, que não estavam «calejadas nos meandros da política» etc.
Para mim esse é precisamente um dos seus maiores trunfos, chega de pessoas comprometidas negativamente com o passado, é preciso caras novas, com reconhecida categoria, como é o caso.

O governo globalmente parece-me até muito equilibrado, houve a sensatez por parte do Passos Coelho, ou de quem com ele, ou por ele concebeu este governo, em não partidarizar pelo PSD o governo.
Houve o mérito de trazer, ou melhor, de convencer a integrar o governo, duas personalidades independentes de grande competência técnica, como o Ministro das Finanças: Vitor Gaspar e o Ministro da Economia: Álvaro Pereira.
Isto para não falarmos nos valores seguros que são Paulo Macedo na Saúde, Nuno Crato na Educação, Miguel Macedo, este do PSD na Administração Interna e Nuno Relvas também do PSD nos Assuntos parlamentares, que talvez seja o melhor tribuno que o PSD tem para enfrentar a feroz oposição socialista que espera o governo.
O Aguiar Branco do PSD na Defesa é uma incógnita.

Os Ministro do CDS parecem-me até ser muito bons, Portas tem experiência política e tem bons conhecimentos de política externa, está no lugar certo.
Pedro Mota Soares, também tem qualidade técnica para exercer os Assuntos Sociais com brio e competência.
A Assunção Cristas que é a «estrela em ascensão» no CDS, à partida pode ser um erro de «casting» na Agricultura Mar e Território, o seu perfil combinaria melhor com uma pasta como a Justiça, mas tenho a certeza que fará um bom lugar.

As minhas dúvidas vão para a Paula Teixeira da Cruz, embora seja uma advogada de prestígio. Cheira-me que não vai conseguir afrontar os dois grandes «lobbies» da nossa Justiça: Os Juizes e os «grandes tubarões da advocacia» sediados nos grandes escritórios de Lisboa e do Porto, aliás, é de um deles que ela é oriunda.

Sobre o actual Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho, é onde recaiem os meus maiores receios e temores. Escrevi neste blog que é um cabotino e um carreirista, mantenha a opinião. Tenho muitas dúvidas que um indíviduo que só se formou aos 37 anos em Economia, e que profissionalmente só trabalhou na JSD e no PSD até quase aos 40 anos e daí para a frente em empresas do seu amigo e «barão» social democrata Ângelo Correia, seja a pessoa mais indicada para dirigir o governo.
A minha esperança, é que ele seja uma espécie de marioneta ou peão ao serviço de uma mente oculta de superior inteligência, mas que não quer dar a cara.

Embora, não tenha votado no PSD, desejo toda sorte do mundo ao novo governo. Aplaudirei o que fizer de bom. Criticarei construtivamente o que me parecer mal.

Para terminar queria só comentar esta frase: «Penso que estamos perante o primeiro governo de Direita em Portugal nesta III República».

Atendendo a que os governos da AD não eram abertamente de direita. Atendendo a que o governos do Cavaco não eram de direita. Concordo.

Penso que o anterior governo PSD/CDS já era de direita ou pelo menos era um ensaio para o ser, não foi por acaso que foi demitido por um Presidente de esquerda, de uma esquerda que nunca «engoliu» muito bem esse governo. Mas a vingança serve-se fria, levam agora com um governo de direita para 4 anos acompanhado por um Presidente não socialista e ainda acompanhado esmagadoramente por outros governos de direita em toda a Europa, à excepção da Espanha e da Grécia. Ou seja este governo tem tudo para dar certo.

Joao Quaresma disse...

Gi: concordo, embora há muito que tenho a opinião que agora já vem tarde demais. Mesmo que se paguem as dívidas ao longo dos próximos 20 anos, já não vai ser possível recuperar as empresas que se perderam e que levaram décadas de investimento económico, tecnológico e educativo a conseguir. Foi bom brincarmos aos ricos com o dinheiro dos outros, e agora temos de nos resignar com o destino que traçámos: Portugal é e vai ser nas próximas gerações um país pobre.

Paulo Lisboa: o anterior governo PSD-CDS governou à esquerda, sobretudo nas Finanças devido a Manuela Ferreira Leite. Mais impostos, mais receita, venda de aneis e o Estado sem diminuir.

Paulo Lisboa disse...

«o anterior governo PSD-CDS governou à esquerda, sobretudo nas Finanças devido a Manuela Ferreira Leite. Mais impostos, mais receita, venda de aneis e o Estado sem diminuir».

Talvez nas finanças, mas dado o estado calamitoso em que já estavam as finanças na altura, não havia outras alternativas.
Lembro-me bem do Durão Barroso referir que queria fazer um «choque fiscal» de baixar os impostos etc. (o que não é nada de esquerda), simplesmente ele não esperava era que as finanças estivessem tão mal.
Também foi imposto pelo CDS, que nessa legislatura não se iria tocar na lei do aborto e muito menos fazer um referendo, o que é uma atitude típica de direita.
Mas esse governo não deu, porque a esquerda não quis, agora que está em minoria e enfrquecida, não será obstáculo a este governo PSD/CDS.