
Alguns apontamentos:
1. Confesso que estava céptico quanto ao novo governo, sobretudo a partir do momento em que reapareceram em cena algumas figuras de má memória, como Fernando Nogueira. Temi que viesse aí mais do mesmo. Mas não, pelo contrário: as escolhas do PSD parecem enterrar definitivamente o cavaquismo. Pedro Passos Coelho está a surpreender-me pela positiva e, pelo que vi até agora, está a parecer-se com o primeiro ministro de que Portugal precisa; oxalá não venha a desiludir. Além de quadros do seu próprio partido, foi bastante bem sucedido nos independentes que incluiu na sua equipa. O CDS aposta em gente enérgica e determinada, que tem demonstrado conhecimentos, e comprovadamente com ganas para enfrentar problemas. Penso que estamos perante o primeiro governo de Direita em Portugal nesta III República.
2. Em Portugal, as instituições prezam muito quem «é da casa», quem «conhece os cantos à casa», com reconhecidos cabelos brancos (muitas vezes de incompetência) o que na maioria das vezes significa que esse alguém não vai mudar nada nessa «casa», nem contrariar os interesses instalados, por muito que a «casa» em questão precise de uma grande limpeza. Por esta lógica, o melhor ministro da saúde que se pode desejar será um médico, o melhor da educação será um professor, e por aí adiante; e depois é o que se sabe. Pois bem, neste governo nenhum ministro é «da casa», o que é precisamente aquilo de que o país precisava há muito: pedradas no charco. Melhor ainda (e pior ainda para os poderes instalados), trata-se de sangue novo, gente (em princípio) sem telhados de vidro. Vão ter trabalho muito difícil pela frente, mas também vão ser difíceis de contrariar.
3. Serão poucos os ministros que não terão de travar guerras totais, de tão diametralmente opostos que são aos poderes instalados. Nuno Crato contra todo o M. da Educação mais os subsídio-dependentes da "Kultura", Paulo Macedo para por ordem no fartar vilanagem do SNS, Álvaro Santos Pereira com a questão das PPP, Paula Teixeira da Cruz contra o establishment da Justiça, e Paulo Portas para colocar em prática uma política externa à medida das necessidades actuais do país, que inclua a aproximação a outros países e espaços que não apenas os habituais, e com ganhos concretos. Temos de ter o bom senso de reconhecer que o nosso ciclo europeu acabou e adaptar-nos às novas circunstâncias, sem mais perdas de tempo do que o estrictamente necessário enquanto membros da UE, enquanto esta durar.
4. É também a chegada da minha geração a pastas ministeriais, e com elementos vindos do sector político com soluções válidas para o país. Há 20 anos, éramos a «geração rasca», mas o facto é que são alguns de nós quem vai atacar de frente a situação calamitosa deixada por tanta "modernização" feita pelos "revolucionários" vindos das duas gerações precedentes.
5. Pedro Passos Coelho cresceu em Angola. Paula Teixeira da Cruz e Assunção Cristas nasceram em Luanda. Angola é hoje um dos principais parceiros comerciais de Portugal, além de destino e origem de investimento. Dezenas de milhares de angolanos escolheram viver em Portugal, e 400 mil portugueses mudaram-se para Angola nos últimos anos. Não são os cínicos "ventos da História", que pretenderam colocar "colonizados" e "colonialistas" para sempre em lados diferentes de um muro artificial, ideológico e racista, que foi imposto por interesses de terceiros. Não: são as voltas que o Império dá!
6. As atenções estão viradas para a economia e finanças, e para as reformas do Estado. Mas uma das áreas em que o novo governo tem desafios mais importantes pela frente é precisamente aquela a que o país está mais desatento e que tem sido mais preterida na atribuição de recursos: a Defesa. Portugal está hoje na circunstância de estar inserido num bloco europeu politica e economicamente problemático; e num bloco militar em acelerada decadência, com os EUA enfraquecidos e relutantes em auxiliar a Europa; e aliados europeus (a começar pelo nosso aliado mais antigo) empobrecidos e moralmente fracos, que se desarmaram e não são minimamente capazes de responder às suas próprias necessidades, quanto mais fornecer meios para nos auxiliar em caso de necessidade. Há também sinais de uma possível desintegração de Espanha e, por outro lado, uma agressividade internacional crescente, em parte produto da crise económica. Para grande azar nosso, esta circunstância estratégica (a mais grave desde o fim da Guerra do Ultramar) dá-se no pior momento económico em mais de 100 anos, o que nos dificulta a renovação de meios e impede de adquirirmos capacidades que compensem a ausência de aliados credíveis. Por isso, e ao contrário do que se possa pensar, a tarefa que espera o Dr. José Pedro Aguiar Branco é tudo menos menor e simples: é um trabalho meticuloso e realista de decidir onde gastar o limitadíssimo orçamento de que disporá. A prioridade deve ser dada à Marinha, onde a necessidade é mais urgente e que actua no espaço que nos é mais determinante; e onde existe a vantagem de podermos recorrer à produção nacional, além de impulsionar exportações. Mas não é só a Marinha. E - pela vossa riquíssima saúde! - não cortem ainda mais nos efectivos.
7. O que se anuncia com este novo governo é um período de corrida pela salvação nacional, de correcção de problemas criados ao longo de décadas, e de normalização da realidade nacional. E insisto bastante neste aspecto: Portugal precisa de voltar a ser um país normal. Chega de sermos tubo de ensaio de experiências ideológicas, de destruirmos o que se tem e se sabe que funciona em nome de experimentarmos receitas que se calculam erradas, por vezes desastrosas. Chega de projectos inviáveis e dos argumentos fantasiosos que são usados para os justificar. Chega de pretensas causas, demagógicas e populistas, que tantas vezes escondem intenções totalitárias. Temos passado por um processo de bananização, de abandalhamento das instituições e dos indíviduos. Isto tem que ser revertido.
Portugal tem de voltar a ser um país normal!
7. Tenha-se votado ou não, sendo do agrado ou não, o facto é que este governo formado pelo PSD e o CDS será o Governo Português durante os próximos anos. Pedro Passos Coelho é o nosso Primeiro-Ministro. Se quisermos que o país se recupere devemos apoiar este governo. Se discordarmos do rumo seguido, devemos apontar soluções alternativas e ser construtivos. Mas este não é o momento nem nos podemos dar ao luxo de fazermos oposição por mero egoísmo ou capricho. Não podemos continuar como até aqui. Temos de recuperar mais do que as finanças e a economia: temos de recuperar os nossos valores, a nossa auto-estima e o nosso orgulho perante os outros povos.
Para que um dia, se Deus quiser, possamos dizer: «Batemos no fundo, sim. Mas recuperámos e agora estamos de pé!»
O país tem de se colocar no rumo certo e de dar o litro. Temos de estar unidos e dar o tudo por tudo.
Boa Sorte Dr. Pedro Passos Coelho e restante Governo!