sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A hora mais dolorosa

Foram muitos anos de pão e circo, muitas promessas de prosperidade assente em aparências, muitas aparências assentes em crédito, muito crédito empenhado em betão e bólides efémeros, muitos direitos e pretextos para não fazer, não trabalhar e não deixar trabalhar. Importar era bom, fazer era mau. Muita ilusão, induzida e de criação própria. Um dia talvez a realidade caísse em cima mas, até lá, saboreavam-se as delícias do futebol e dos hipers, e das palavras reconfortantes dos vendedores de banha da cobra, dos aráutos do Estado Social, da Justiça Social, do passe social, da Taxa Social, do serviço público, tudo generosamente gratuito, ou não fosse o Estado a encarnação do Pai Natal. E se o craque do futebol ou o apresentador de concursos recomendam o empréstimo e o cartão de crédito, quem somos nós para duvidar?

Constante negação, por aversão à realidade, e no refúgio do politicamente correcto e da ignorância tida como legítima. «Economia? Isso é coisa que só interessa saber a ricos, a gente que usa fato e gravata». Não quiseram saber onde se estavam a meter porque pensaram que a solução para os problemas é sacudir a água do capote, queixar e criticar, que depois há de vir alguém que pague a conta e resolva.

E veio, mas tarde e a más horas, e somos nós todos que pagamos a conta. A doença evoluiu ao ponto de atingir proporções catastróficas e agora a cirurgia necessária é muito, muito dolorosa.

Tenho esperança que a situação um dia seja aceitável (a prosperidade já está guardada na memória e nos livros de História), mas que ninguém tenha dúvida que Portugal será um país pobre nos próximos 15-20 anos. É demasiada dívida para pagar, demasiada reconstrução do zero que o país terá de empreender, a começar pela mentalidade.

Para já, e para não cairmos no abismo, vamos vendendo os anéis.

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