domingo, 4 de dezembro de 2011

Lições de quem sabe governar

Há dias, vendo o par Merkozy (que só é suportável nos anúncios do Licor Beirão) e lembrando-me do tempo em que os países europeus eram governados por gente capaz como Margaret Thatcher ou Giscard d'Estaign, veio-me à memória o nome de Helmut Schmidt. Há 30 anos era ele o rosto da Alemanha; uma Alemanha que era ainda a Ocidental, a República Federal da Alemanha. Era um país bastante mais digno e bem visto do que é hoje, quanto mais não seja porque era mais comedido e ainda sofria do complexo do derrotado da Segunda Guerra Mundial. A RFA protagonizou o "milagre" económico alemão do pós-guerra e, ciente do seu enorme sucesso, sabia não ser arrogante porque na altura tinha consciência das consequências de espirais de arrogância na Europa.

O ex-chanceler alemão, agora com 92 anos, veio a público dar uns valentes puxões de orelhas aos políticos actuais, e lembrar algumas lições que os alemães não se podem permitir de esquecer.


Ex-chanceler acusa ministro alemão de visitar mais o Médio Oriente do que Lisboa
04/12/11 13:00

Antigo chanceler alemão Helmut Schmidt apelou a mais solidariedade de Berlim para os parceiros europeus.

"Não podemos esquecer que a reconstrução da Alemanha após a guerra não teria sido possível sem o apoio dos parceiros ocidentais, e por isso temos o dever histórico de mostrar solidariedade com outros países, o que se aplica especialmente à Grécia", disse Helmut Schmidt num comício que antecedeu a abertura do congresso dos sociais-democratas (SPD), em Berlim, e em que participaram cerca de nove mil pessoas.

Schmidt advertiu ainda contra eventuais demonstrações de força da Alemanha perante os parceiros europeus, afirmando que o nacionalismo alemão "causa sempre incómodo e preocupação nos vizinhos".

Na opinião do decano da política germânica, que aos 92 anos continua a ser uma figura marcante da vida do país, a confiança na política alemã "sofreu danos, devido a erros na política externa e ao poder económico exercido" por Berlim.

Se a Alemanha "cair na tentação de assumir um papel de liderança na Europa, os seus vizinhos vão defender-se cada vez mais", advertiu Schmidt, que nos últimos congressos do SPD não usou da palavra, depois de, em 1998, ter apoiado abertamente a candidatura a chanceler de Gerhard Schroeder.

"É fundamental para os seus interesses estratégicos que a Alemanha não fique isolada de novo", acrescentou o economista que dirigiu os destinos da Alemanha entre 1974 e 1982.

Schmidt, que tem discordado frontalmente da política europeia da chanceler Angela Merkel, atribuiu ainda a chamada crise do euro à "conversa fiada" de jornalistas e políticos, fazendo uma clara profissão de fé na integração europeia.

"Entretanto, sou um homem muito velho, e a favor de uma completa integração, porque se a União Europeia não conseguir actuar em conjunto, alguns países ficarão marginalizados, e isso será muito perigoso, porque atiçará os velhos conflitos entre a periferia e o centro da Europa", sublinhou Schmidt.

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