segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Nós os ricos

Criou grande alarido na opinião escrita a divulgação de que os ricos portugueses (segundo o critério de rendimentos anuais acima dos 100.000€) são apenas 1% da população (dados de 2006), mas que suportam 25% da receita do IRS. E também que os 15% mais ricos pagam 80% dessa mesma receita. Um aumento face a anos anteriores, em que os 16% mais ricos suportavam 70% das receitas.

Acrescente-se a isto que metade da população não tem que pagar IRS, e veremos que o tão popularmente proclamado «Isto para os ricos é que está bom!» não corresponde minimamente à verdade.

E pergunta-se: e isto tem resolvido o quê? Se fossem verdadeiros os mitos da justiça social e da redistribuição da riqueza pelo Estado, sacralizados nas últimas décadas para servirem de pretexto a uma fiscalidade quase feudal, Portugal há muito que deveria ter os seus problemas de pobreza e de desigualdade resolvidos. A realidade demonstra o contrário, e são justamente os países onde os impostos são mais baixos, onde o peso do Estado é menor e onde a riqueza é menos castigada aqueles que mais se desenvolvem e onde a desigualdade económica e é menor. Vejam-se os países anglo-saxónicos ou o Japão, e conclua-se.

E mesmo deste lado do Atlântico, há quem aprenda a lição: há alguns anos, na Bélgica, o então governo dos socialistas flamengos (bem mais à Esquerda que o nosso PS) simplesmente extinguiu o imposto sobre grandes fortunas como forma de atrair capitais estrangeiros ao país, o que conseguiu. Entre outros, o cantor francês Johnny Hallyday escandalizou os seus conterrâneos ao tornar-se cidadão belga, da mesma maneira que a modelo Laetitia Casta se tinha tornado britânica anos antes.

Com apenas 1% de ricos, Portugal está estatísticamente ao nível da Austrália. O problema é que na despesa pública e no número de pobres, estamos no Terceiro Mundo.

5 comentários:

Paulo Lisboa disse...

Pois é, tudo isso é verade. Infelizmente vivemos num país onde a maioria das pessoas, directa ou indirectamente tem a mania do comunismo. Por isso duvido muito que Portugal siga esses bons caminhos do Japão e dos países anglo-saxónicos. Basta lembrar que o Bloco de Esquerda, que é o partido que mais cresce em Portugal, defende precisamente um imposto sobre as grandes fortunas!

Joao Quaresma disse...

Paulo Lisboa: não concordo que a maioria das pessoas tenha a mania do comunismo. A esmagadora maioria - a começar por muitos dos que se dizem comunistas - não sabe o que isso é.

Já a inveja e frustração com os seus próprios falhanços explicam muita coisa. Mas a maior explicação de todas é a ignorância, que é a mãe da maior parte dos defeitos portugueses.

Paulo Lisboa disse...

Caro João Quaresma,
Quando digo que maioria da pessoas em Portugal directa ou indirectamente tem a mania do comunismo, não ando muito longe da verdade.
Neste momento PC e BE tem mais de 20% dos votos, o PS até aos anos 90 do século passado ainda tinha o marxismo no seu programa político e que mesmo depois disso continua a ter «Manueis Alegres, Anas Gomes» e quejandos, sempre teve um «fascínio comunista».
Além de que em Portugal a esquerda foi na maior parte das vezes maioritária. Uma esquerda, que é das esquerdas mais à esquerda da Europa.
Mas quando refiro o que referi, quero acima de tudos dizer, que em Portugal depois do 25/4/74, sempre houve a mania, do esquerdismo, do socialismo, do estatismo, misturados com a inveja, a ignorância e até a preguiça. Quanto a mim é este «cocktail» explosivo que causa e favorece o nosso atraso ecónomico e social em relação ao resto do mundo desenvolvido.

Joao Quaresma disse...

Caro Paulo Lisboa: passo a contradição, concordo totalmente em parte com o diz. Isto porque o que descreve (bem) é uma parte do país, ainda que significativa. E esse país apoiaria uma ditadura nazi, se fosse necessário, desde que isso lhe garantisse o status quo e os vícios instalados.

Mas existe um outro Portugal, o da "maioria silenciosa" que não pensa nem age da maneira como descreve, mas que infelizmente não influencia o rumo dos acontecimentos.

E, infelizmente também, é igualmente ignorante, a ponto de não perceber que é capaz de influenciar esse rumo.

Quanto ao PS, não é de estranhar uma vez que surgiu como um partido comunista alternativo ao PCP, ainda que "corrigindo o tiro" pragmaticamente durante o PREC. Mas nem por isso deixou de ser o ecoponto da extrema-esquerda.

Quanto aos passionários e passionárias de esquerda que lá polulam, acho que o comunismo é bom concerteza mas para os outros. Para eles próprios, da Rússia só querem rublos e caviar. Veja onde algumas dessas figuras puseram os filhos a e$tudar e onde tratam da sua $aúde, e vai ver o que realmente pensam dos maravilhosos sistemas públicos que defendem como sacrossantos.

Continuo a achar que, a nível de convicções Portugal não é de esquerda. O que é é extremamente ignorante e ingénuo, e acaba muitas vezes por ir nos contos da esquerda.

Se os eleitores do PCP e do BE soubessem que, por exemplo, na URSS o Estado era proprietário de todas as casas e a maior parte da população tinha de viver em regime de cohabitação, i.e., terem de divir a mesma casa com outras famílias, de certeza que ficariam hororrizados com a perspectiva do mesmo acontecer em Portugal se BE e PCP chegassem ao poder.

Paulo Lisboa disse...

Caro João Quaresma passo a citá-lo:

«Continuo a achar que, a nível de convicções Portugal não é de esquerda. O que é é extremamente ignorante e ingénuo, e acaba muitas vezes por ir nos contos da esquerda».

Concordo inteiramente com isso. Penso até que o povo português, em termos de valores e de cultura, é estruturalmente de direita. Mas infelizmente o nosso povo em eleições parece que fica manietado pela nossa esquerda, sobretudo pela mais totalitária e anarca. Há até pessoas inteligentes, cultas, instruídas e bem intencionadas que embarcam nessa esquerda. Sinceramente, além de me fazer impressão, nunca percebi bem porque o fazem.