A história começou há dois anos quando um inglês, mecânico amador e aficionado de Jaguares, se dirigiu ao seu fornecedor de peças habitual. Este tinha adquirido um carregamento de peças originais de Jaguar E-type que alguém tinha comprado directamente ao fabricante em 1974, quando a produção foi encerrada e as peças se tornaram excedentárias, carregando um camião com elas. Nesse lote de peças, rigorosamente novas e originais, estava 95% do que era necessário para montar um Jaguar E-type, incluindo uma carroçaria da versão Roadster, os interiores completos, a caixa de velocidades e o motor V12 de 5300 cc.
A ideia surgiu logo na mente de Ray Parrot: montar um Jaguar E-type novo em folha. As peças que faltavam (nomeadamente o pára-brisas) poderiam ser facilmente adquiridas em segunda mão, em bom estado. Parrot contactou a Driver and Vehicle Licensing Agency (equivalente à nossa Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária), que lhe garantiu que poderia emitir-lhe um número de chassis e uma matrícula de forma a legalizar o veículo. A carroçaria precisou de alguns retoques que foram feitos fora, mas a montagem foi toda feita na garagem de Ray, ao longo de oito meses. No final do ano passado, o carro ficou pronto (fotos da sessão fotográfica para a revista Octane):
É claro que isto só é possível em países onde as autoridades prezam a liberdade individual, e onde existe respeito pela iniciativa e pela cultura automobilística, coisas que são apanágio dos países anglo-saxónicos. A forma como as autoridades rodoviárias se prontificaram a permitir a circulação deste automóvel diz muito do civismo do Reino Unido, que se recusa a adoptar normas da União Europeia que sejam nocivas à cultura e liberdade automobilística; existem, por exemplo, automóveis que, na Europa, só podem circular em terras de Sua Majestade.
Escusado será dizer que, em Portugal, seria totalmente impossível fazer isto: provavelmente tinha de se montar uma empresa com alvará para montagem de veículos automóveis, pedir a homologação com leis actuais, e muita sorte se não fosse pedido um crash-test.
Mas esta história deixa-me com vontade de mudar-me para Inglaterra e procurar carregamentos de excedentes de produção de Lotus Esprit, de Citroën DS ou - porque não - de MG B?