Como acontece sempre nestas alturas, a Cinemateca Portuguesa deverá fazer um ciclo de homenagem a Paul Newman, provavelmente em Novembro. Serão de prever enchentes como poucas se viram na Barata Salgueiro.
De Paul Newman pouco resta dizer. Apenas que, tal como Marlon Brando, a sua carreira foi prejudicada e o seu talento menos aproveitado por se meter desnecessáriamente em política. Brando foi mais longe, cometendo um estúpido suicídio profissional ao recusar o Óscar de melhor actor como forma de se solidarizar com a luta de uma tribo de índios (de que ninguém mais ouviu falar e que hoje estarão, como todos os índios, felizes a gerirem os seus casinos nas suas reservas livres de impostos). E a carreira de Marlon Brando praticamente acabou, exceptuando o papel secundário em Apocalypse Now. Paul Newman fez a sua travessia do deserto e, apesar de um bom papel em A Calúnia só em meados dos anos 80, já com 60 anos, pela mão de Martin Scorcese em A Cor do Dinheiro é que verdadeiramente regressou (daí o «Hey: I'm Back!», a frase final do filme).
O preocupante é constatar que há pouca descendência profissional. Hoje existem poucos actores verdadeiramente de excepção: Jack Nicholson (uma lenda viva), Daniel Day Lewis (frequentemente apontado como um autêntico Nóbel, talvez o melhor actor de todos os tempos), Nicole Kidman (também apontada como a mais versátil da História do cinema), Gene Hackman, Robert de Niro, Al Pacino, Robert Redford, Michael Douglas, Jodie Foster, Dustin Hoffman, Leonardo di Caprio (talvez o sucessor de Paul Newman, muito graças a Martin Scorcese) e poucos mais.
Existem uns que, não sendo maus actores, têm acima de tudo presença (ao ponto de a construção dos respectivos personagens sair prejudicada): Morgan Freeman, Russel Crowe, Denzel Washington e Julia Roberts são disso exemplo.
Existe também uma legião dos que fazem carreira graças à aparência física, não importando se são bons ou mais actores: Angelina Jolie, Brad Pitt, Tom Cruise, Charlize Theron, George Clooney ou o intragável Matthew McConaughey.
E há ainda os que não são bons actores mas fazem figura de o ser, e têm o apoio da imprensa (por vezes apenas por razões políticas) que não se cansa de os elogiar: Sean Penn e Tim Robbins são os maiores exemplos.
Paul Newman era superior a isso tudo e por isso mesmo, por pertencer a uma elite com poucos descendentes, é que vai deixar saudades. Despediu-se - na minha opinião, em grande - ironicamente num filme de animação: Carros. Deu a voz a um velho carro de corrida, ex-campeão injustiçado e aposentado. Um papel que tinha tudo a ver com ele, que também foi piloto de competição. Um velho campeão que ensina um jovem e arrogante carro de corrida (Lightning MacQueen) os valores humanos que fazem a diferença entre vencer nominalmente corridas e ser um autêntico vencedor, dentro e fora das pistas. Toda uma lição de vida que poderia ser dada pelo próprio Newman.
Requiescat in Pace
2 comentários:
JQ, concordo com vários pontos do seu texto.
Quanto à escassez de actores de excepção vivos, a sua lista parece demonstrar o contrário... embora eu não subscreva todos os nomes.
Há uma geração de actores mais jovens que se calhar são bons, que o JQ não menciona e eu não conheço, mas o problema não é com eles, é com os filmes, que raramente apetecem.
«mas o problema não é com eles, é com os filmes, que raramente apetecem.»
Nem mais. Sobretudo faltam bons argumentos. São poucos os filmes realmente bons.
Parece-me que os de excepção são poucos comparados com os anos 50 em que eram às dúzias. Talvez por naquela época começarem pelo teatro enquanto que hoje começam por sitcoms e séries de televisão em que boa parte do tempo se filma um cada plano de cada vez em vez de uma sequência (isso descobre-se facilmente por causa dos falhas técnicas).
Entre bons actores jovens, ocorre-me a Scarlet Johanssen ou o Tobey McGuire. Mas ainda são poucos.
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