terça-feira, 21 de setembro de 2010

Lições da Suécia

Há muitos anos, uma antiga vizinha minha casou com um sueco, de quem teve uma criança que nasceu em Estocolmo. Por via do marido, teve o acompanhamento dos serviços de saúde suecos e lembro-me de um dia ela receber um telefonema da Suécia, a avisá-la de que estava na altura do bebé começar a fazer ginástica.

A Suécia sempre foi considerada o suprasumo do Estado Social. Um autêntico Estado-Papá a que toda a gente queria estar ligada, e a que a Suécia não dizia que não. Uma amiga minha, directora comercial da filial de uma grande empresa sueca em Angola, conseguiu que todos os funcionários angolanos pudessem ser integrados na Segurança Social sueca, apesar de raros terem sido os que alguma vez puseram o pé na Suécia.

O segredo tem sido um povo extremamente civilizado, eficiente, honesto e por isso rico, e um sistema social que não é uma completa balda como a que existe em quase todo a Europa (e que agora colocou a Europa à beira da falência). Por exemplo, as universidades são 100% gratuítas, e incluem alojamento gratuíto em residências próprias. Mas só se pode concorrer depois de 2 anos de trabalho (na Suécia ou no extrangeiro), para dar tempo aos jovens para pensarem bem se querem e se realmente precisam de ir para a universidade e qual a profissão que lhes convém mais. E para que a frequência de um curso universitário não seja entendida como apenas um prolongamento do liceu e uma maneira de se viver longe dos pais, por conta deles e do Estado. Compare-se isto com o disparate do sistema de Bolonha (que os próprios italianos já abandonaram).

Mas por muito ricos que sejam, e por muito bem organizado que seja o seu estado social, até a Suécia - tradicionalmente social-democrata - virou à Direita, por perceber que até para eles a despesa é muita, e que o Estado não pode ser Pai Natal.

Numa altura em que em Portugal, ou dos quatro únicos países dos 27 da UE onde a Esquerda ainda está no poder (os outros são Espanha, Grécia e Chipre), ainda há gente que insiste em acreditar em ilusões. Não temos nada que se compare à Volvo, à Saab, à ABB, à Eriksson ou Tetrapak, pelo que para se brincar ao Estado-Papá, só mesmo indo ao bolso deste país improdutivo, endividado e pedinte do dinheiro dos outros. Em Portugal, há 35 anos que os ricos pagam a crise como em mais nenhum outro país da Europa e, sem surpresas, a crise continua. Porque é preciso que haja crise para o Estado continuar sempre a tirar mais dinheiro a todos, e a justificar o Estado Social com o grande número de pobres. Não se trata de Economia, nem governar para o bem do país: é simplesmente política.

Para se governar um país, é preciso tomar decisões com pragmatismo, e com bases em dados concretos e realidades conhecidas, não em bandeiras ideológicas. E ter presente que o excesso de generosidade leva sempre a abusos. A alternativa é a falência.

A minha ex-vizinha não deu valor ao facto do marido sueco ser um bom marido e um bom pai, de ter abandonado um emprego capaz na Suécia para vir viver para Portugal porque gostava dela e, apesar de ser um jarrão sem ponta de piada, não tardou a brindá-lo com um par de chifres. Quando soube, o sueco deu-lhe uma merecidíssima sova e voltou para Suécia com a criança. Há coisas que nem um civilizadíssimo suporta.

3 comentários:

Gi disse...

Eu estou à espera de ver o que os socialistas vão dizer destes resultados suecos. Até agora só vi uma tentativa de assustar o pessoal com os 20 lugares da "extrema-direita" no parlamento.
Pelo menos há isso: dos comunistas não se tem ouvido nada em relação a Cuba.

Joao Quaresma disse...

Gi: dos comunistas não ouve nada porque devem ter rebentado muitos fusíveis naquelas cabeças. É quase uma segunda queda do Muro de Berlim.

Paulo Lisboa disse...

Mais um magnífico artigo saído da tua pena, João Quaresma.

Queria acrescentar o seguinte e passo a citar-te: «Em Portugal, há 35 anos que os ricos pagam a crise como em mais nenhum outro país da Europa e, sem surpresas, a crise continua».

Ricos e pobres, porque a crise é para todos, e não é de agora. Portugal, desde o 25/4/74 a esta parte, que tem vivido ininterruptamente em crise, tirando talvez os anos do Cavaco, sempre estivemos em crise. Meio a brincar digo sempre: «Isso da crise, já vem do tempo da minha avó».

Em relação à Suécia que é sem dúvida um dos países mais civilizados do mundo e por via disso eficiente, rico e até pasme-se (mesmo com pouco sol)...feliz do mundo.

O suecos deixam a sua marca de inegável qualidade em tudo o que fazem, já nem falo dos Volvo e dos SAAB (bem que gostaria de ter um) da Ericson e dos ABBA, mas no IKEA que faz bons móveis e a baixo preço, não foi por acaso que a sua chegada a Portugal coincidiu com a acentuada queda nas vendas da Moviflor.

Mas nem mesmo na Suécia o estado social é uma cornucópia de onde jorra dinheiro infinitamente para tudo e para todos. Por isso mesmo, no início do anos 90 os suecos descobriram que tinham uma crise financeira à conta deste estado social e por isso puseram «travões a fundo» neste estado social.

Ora a pergunta que eu faço é a seguinte: Se a Suécia que é rica e civilizada e corta no estado social, porque é que Portugal que é pobre e boçal também não há-de fazer o mesmo?