segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Fugas de desinformação?
Por outro lado, se é certo que isto é um enorme embaraço para os EUA, do que a imprensa tem divulgado até agora, a maior parte não é surpreendente ou mesmo desconhecido. A questão do islamismo na América Latina é um assunto conhecido, que Berlusconi tem ligações à Rússia também já era evidente, e a voluptuosa ucraniana que acompanha Kadaffi poderia não ser conhecida mas decididamente não é um assunto de monta. As considerações que os diplomatas tecem no seus relatórios também não são surpreendentes, mas apenas incómodas como é o caso em relação aos britânicos. Por exemplo, durante a II Guerra Mundial, um embaixador britânico em Lisboa, que diplomaticamente não poupava elogios ao mais velho aliado do seu país, depois, na correspondência que enviava para o Foreign Office, desabafava e dizia o pior possível, descrevendo o povo português como «uma mistura de árabes e judeus incapaz de um raciocínio lógico que tinha a sorte de ser governado por um professor universitário». A hipocrisia e a falsidade fazem parte do métier.
Mas no meio destas revelações, o facto é que vai sendo divulgada muita informação que é útil aos EUA que se saiba, e que de outra forma seria incómodo as fontes oficiais revelarem. Os italianos ficaram a saber que o seu PM é um lacaio da Rússia, os franceses que o seu presidente é machista, que a Turquia tem vendido armas ao Irão, que a ameaça nuclear iraniana é real, por aí adiante. Para todos os efeitos, a culpa é do Wikileaks. Por isso, a acusação do Irão de que se trata de uma fuga de informação organizada por Washington pode não ser tão descabida quanto soa. É díficil de acreditar que a incompetência seja tanta, e seria de esperar que Washington impedisse isto de acontecer se realmente o quisesse. Até porque, legalmente, o que o Wikileaks está a fazer constitui crime.
Por outro lado, ficar-se a saber que os diplomatas norte-americanos receberam instruções para obterem dados biométricos e o DNA de figuras de determinados países o que, embora sempre dê um certo glamour estilo James Bond, não só parece algo fantasioso (para não dizer estúpido) como pressupõe objectivos sinistros tanto em relação a países reconhecidamente adversos aos EUA e como a outros que nem por isso (como Cabo Verde). Isto lesa grandemente a imagem dos EUA.
Quem ganha com isto? Aparentemente, ninguém porque todos saem mal na fotografia. Mas alguns saem pior que outros. E se por um lado, conseguem passar algumas mensagens que interessam aos EUA, a administração Obama sai humilhada. É que é difícil de conceber que algo do género aconteça em países muito pouco relevantes, quanto mais em Moscovo ou em Pequim.
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Coitus Interruptus
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Quando as guerras eram outras.
Palestina, Primeira Guerra Mundial.
O plano Aliado para acabar com o Império Turco-Otomano está em marcha. Por um lado, as tribos árabes incitadas contra os turcos pelo oficial inglês T. E. Lawrence ("da Arábia"). Por outro, as tropas britânicas contra os bastiões do Exército Turco, armado e aconselhado por oficiais alemães. Entre os britânicos estavam as tropas australianas e neo-zelandesas (ANZAC), cuja infantaria montada (que não era cavalaria, não combatiam a cavalo mas a pé) se cobriram de glória no ataque a Beersheba (actualmente Israel).
The Turkish defences of Beersheba were strongest towards the south and west. There they had a line of trenches, protected by barbed wire, supported by strong redoubts, all constructed along a ridge. To the north and east the defences were much weaker, and crucially lacked any wire. No serious attack was expected from the area of rocky hills east of the town. Beersheba had just been designated as the headquarters of a new Turkish Seventh Army, but on 31 October that army had not yet come into being. The town was defended by 3,500-4,000 infantry, 1,000 cavalry with four batteries of artillery and fifty machine guns.Allenby allocated a very powerful force to the attack on Beersheba. Three infantry and two cavalry divisions would take part in the attack. Two of the infantry divisions were to attack against the main Turkish defences, to the south west of the town, to tie down the Turkish garrison. The third division was to protect against any Turkish reinforcements arriving from the north-west. Meanwhile, the two divisions of the Desert Mounted Corps (Anzac Division and Australian Division) were sent around the town to the east, with orders to sweep into the town through the weaker eastern defences.
Isto é que eram guerras...
Tão generosos que nós somos
Espanha reclama da empresa de caçadores de tesouros norte-americana, a Odyssey Explorer, uma fortuna avaliada em 500 milhões e euros. Na semana passada, um novo recurso no Tribunal de Atlanta adiou a decisão de entregar o ouro e a prata a Espanha. Os destroços do local de pilhagem na nau "Nuestra Señora de las Mercedes", conforme foi explicado em tribunal, estão ao largo do Cabo de Santa Maria, Faro. Portugal não vai reclamar o tesouro.
Eu pergunto é quando foi a última vez que alguém restituiu o quer que fosse a Portugal? É que ao longo dos anos têm sido descobertos navios portugueses afundados (como há uns anos na Namíbia) e de restituições a Portugal, nada. Que maravilha de diplomacia que nós temos.
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Lições de Inglaterra
Antes de ontem, uma das marcas americanas mais prestigiadas, a Pontiac, acabou oficialmente. A propósito disso, lembrei-me do caso da indústria automóvel britânica, que hoje está reduzida a marcas de nicho, como a Land Rover, a Jaguar e a Aston Martin. Lembram-se da British Leyland? Foi o 4º maior construtor mundial, resultante da fusão da maioria das marcas britânicas, e sequente nacionalização. Eis a receita para o desastre. Nota: Red Robbo era o dirigente do sindicato dos trabalhadores da indústria automóvel, normalmente apontado como o coveiro da British Leyland.