1. No dia 16 de Março de 2006, quando Cavaco Silva tomou posse em Belém, reuniu-se com José Sócrates, tendo ficado acordada a "cooperação estratégica" entre os dois. Mas houve outra coisa que parece ter escapado à imprensa e, parece-me, a praticamente toda a gente: Cavaco e Sócrates combinaram contribuir para a reeleição um do outro. Alguém mais se lembra disto? Eu tenho tentado descobrir nas notícias da época, e não dou com nenhuma referência, mas lembro-me de ser dito.
E o facto é que já antes de Cavaco chegar a Belém ajudou a derrubar Santana Lopes (a "má moeda"), abrindo o caminho para Sócrates se tornar PM.
Em troca, nas Presidenciais de 2006, Sócrates apoiou Mário Soares (uma candidatura sem quaisquer hipóteses frente a Cavaco) e não impediu que uma parte importante do PS apoiasse Manuel Alegre, dividindo ainda mais o eleitorado PS.
Depois, foi a fase da lua-de-mel, com a máquina de propaganda socialista a promover Cavaco. Houve algumas birras, sem dúvida, para manter as aparências e não parecer que Cavaco era na realidade o presidente desejado pelo PS. Mas Cavaco fez tudo o que Sócrates pedia, inclusive aumentos de impostos desastrosos, e aprovar a lei do casamento de homens com homens e mulheres com mulheres, algo que o eleitorado que elegeu Cavaco nem remotamente alguma vez pensou que viesse a fazer. Mas o eleitorado gay ajudou a reeleger o PS, e Cavaco não podia deixar de ajudar a cumprir a promessa eleitoral de Sócrates, por muito que isso desagradasse aos que votaram nele.
Para as Legislativas de 2009, e perante a enorme impopularidade de Sócrates, Cavaco apadrinhou/patrocinou/orquestrou a chegada de Manuela Ferreira Leite ao poder no PSD: a única pessoa suficientemente desastrosa para impedir uma vitória do PSD nessas eleições.
O pacto Cavaco-Sócrates foi cumprido: Sócrates foi reeleito.
Próxima etapa: Presidenciais 2011. Sócrates apoia outro desastre: o inútil Manuel Alegre, já depois deste ser o candidato do Bloco de Esquerda. E, mais uma vez o eleitorado do PS é dividido, não por 2 mas por 3 candidatos, juntando-se Defensor Moura e o "independente" Fernando Nobre. O resultado só poderia ser a reeleição de Cavaco.
O pacto Cavaco-Sócrates mais uma vez foi cumprido.
Mas desta vez, e sendo a última vez que Cavaco ía a votos e a sua imagem pública julgada, o PS não quis deixá-lo escapar sem umas cicatrizes e a luta política passou das anteriores marcas e partiu para o ataque destrutivo da credibilidade de Cavaco, nomeadamente por via da imprensa pró-socialista e de um pseudo-candidato - Defensor Moura - cujo único propósito foi difamar Cavaco. E o facto é que, graças ao assunto SLN-BPN, o mito de um Cavaco Silva com uma honestidade acima de qualquer suspeita acabou. Cavaco ainda ripostou com críticas directas ao Governo, e com o histórico «Vocês precisavam de nascer duas vezes para serem tão honestos quanto que eu!». Mas isso só serviu para mostrar uma face agressiva que não se lhe conhecia. Em circunstâncias normais, Cavaco teria arrasado com 60% ou 70% dos votos, mas ficou-se por pouco acima dos 50%, com uma enorme abstenção e foi em grande parte eleito por ser o mal menor, frente a 5 nulidades.
Será que o pacto Cavaco-Sócrates acabou no Domingo? Pelo tom de Cavaco no discurso da vitória (frente a meia-dúzia de gatos constipados à porta do Centro Cultural de Belém...), vem aí vingança. Mas a política dá muitas voltas, e nunca se sabe o que é o dia de amanhã. Aguardemos para ver.
Agora que ficou tratada a questão de Belém, voltamos à agenda do momento: entrada do FMI e saída de Sócrates.
1 comentário:
Bem visto sem dúvida! Eu não acredito em bruxas, mas que as há...há...
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